Foi depois do atentado em Nice, no passado 14 de julho, onde morreram 84 pessoas, que os autarcas franceses, nomeadamente das zonas costeiras, declararam uma espécie de guerra ao burkini – esse cruzamento entre uma burqa e um biquíni. Christian Estrosi, presidente da zona metropolitana de Nice-Côte d”Azur, argumentou a proibição do uso destes trajes por ser contra a “dissimulação integral do rosto ou o uso de um traje integral para ir praia”, uma vez que estes “não correspondem ao nosso ideal de relação social”. Já o primeiro-ministro francês, Manuel Valls, considera o burkini “um projeto de contra-sociedade baseado na submissão da mulher”.
Entendo, e subscrevo, a proibição do véu integral – a burqa ou o niqab – em locais públicos que a França decretou já em 2010, por questões de segurança. Mas não entendo esta decisão em relação ao uso do burkini na praia, já que as questões de segurança estão aqui asseguradas uma vez que o rosto fica descoberto. Podemos argumentar que, se visitarmos um país muçulmano onde o véu seja obrigatório, seremos também obrigadas a usá-lo e portanto devemos “fazer-lhes o que nos fazem a nós”. Mas este princípio não fará de nós mais fundamentalistas do que os fundamentalistas que procuramos combater? É que, se não gosto da imagem de uma mulher, na praia, sol a pique, calor de cortar a respiração, toda vestida; nem gosto da desigualdade que, para mim, esta imagem representa; ainda gosto menos da ideia de quatro polícias armados se poderem dirigir a uma mulher – na companhia da filha – alegando que ela não pode vestir aquilo que deseja, como se viu numa praia de Nice. E sim, parto do princípio – eventualmente inocente – que uma mulher vai para a praia de burkini porque quer, seja por questões associadas à religião que professa, ou por questões sociais – as tais que, para mim, assentam em direitos desiguais. Mas que prefiro respeitar do que desrespeitar.