31 de agosto de 1997. A Europa acordou em choque com a notícia da morte da princesa Diana.
A britânica morreu na noite de domingo, na sequência de um acidente de automóvel no túnel da Ponte de l’Alma, em Paris (França), onde circulava com o namorado, Dodi Fayed, e o guarda-costas de Fayed, Trevor Rees-Jones – o único sobrevivente –, num carro conduzido por Henri Paul. Tinha 36 anos.
Foram milhares as homenagens prestadas por anónimos da Diana de Gales. Os ramos de flores e as mensagens colocadas à porta do Palácio de Buckingham espelharam a tristeza do povo britânico por terem perdido aquela que desejou ser a rainha do povo.
Memória que perdura Em Portugal, houve um livro de condolências na embaixada britânica e chegou mesmo a ser celebrada uma missa em memória da princesa de Gales, na igreja São João de Deus, em Lisboa, onde participaram centenas de pessoas.
Gabriela Canavilhas ainda hoje se recorda como soube da notícia. “Lembro-me perfeitamente. Estava no Alentejo, de férias em família, numa pequena aldeia no concelho de Avis. Logo de manhã, vimos as notícias na televisão e lembro-me de termos ficado siderados, tanto nós em casa e um pouco por toda a aldeia. Fiquei o resto da manhã agarrada à televisão”, recorda a ex-ministra da Cultura.
A socialista descreve o momento como algo “surpreendente e marcante” pela “morte trágica” de Diana. “Era uma figura que era um ícone que marcava uma rutura com um certo establishment da monarquia inglesa”, adiantou.
Gabriela Canavilhas relembra ainda o impacto que a morte da princesa de Gales teve no mundo, especialmente porque a britânica era uma figura extremamente mediatizada pelos órgãos de comunicação. “Na altura, lembro-me de ler que ela era a figura pública com o maior número de capas de jornais e revistas no mundo”, disse a socialista, acrescentando que, nos dias que seguiram, acompanhou as cerimónias fúnebres.
Críticas à família real Quem não pareceu acompanhar o choque generalizado foi a família real, cuja demorada reação ao incidente foi duramente criticada pelos britânicos. Na altura, estavam de férias da sua casa no castelo de Balmoral e não se deslocaram de imediato a Londres. Foi até o primeiro-ministro britânico da época Tony Blair o primeiro a reagir – foi durante essas declarações que se referiu a Diana como a “princesa do povo”, um título ao qual ainda hoje é associada.
A primeira reação por parte da família real surgiu apenas a 4 de setembro, através de um comunicado onde explicava que os filhos da princesa sentiam muito a falta da mãe e que queriam ficar com o pai e com os avós em Balmoral. Poucos dias depois, a Rainha Isabel II fez uma declaração à televisão, onde lamentou a morte da nora e realçou a devoção da mesma para com os filhos.
Outra das críticas apontadas à monarquia foi o facto de não terem colocado a bandeira a meia haste, algo que só aconteceu quando a Rainha de Inglaterra saiu do Palácio de Buckingham para assistir ao funeral na Abadia de Westminster.
Exagero mediático Os dias que sucederam a morte de Diana foram de uma intensa cobertura mediática.
As celebrações fúnebres foram transmitidas em direto um pouco por todo mundo. Imagens que mostraram os milhares de pessoas que se deslocaram até Londres para assistir e acompanhar os seis quilómetros de cortejo fúnebre. São poucas as pessoas que não se recordam dos pequenos príncipes William e Harry, na altura com 15 e 12 anos respetivamente, a acompanharem o caixão da mãe pelas ruas da capital ao lado do pai, o príncipe Carlos, o avô, o príncipe Filipe, Duque de Edimburgo, e do tio e irmão de Diana.
Durante a cerimónia, centenas de figuras públicas, desde representantes de outras casas reais, políticos e personalidades das artes, fizeram questão de participar na homenagem à princesa. Elton John cantou aquela que será para sempre a música de Diana, “Candle in the wind (Goodbye England’s rose)”, uma versão adaptada de um single de 1973.
Apesar de não se lembrar ao certo como soube da notícia, Manuel Alegre recorda-se bem o impacto mediático.
“Todas as televisões e os jornais falavam disso”, afirmou o poeta, acrescentando que se lembra em particular dos familiares de Diana a acompanharem o cortejo fúnebre.
O ex-candidato presidencial realça ainda que a morte de Diana é um tema que ainda hoje é mediático, uma vez que é constantemente recordado e sujeito a interpretações.
“Diana era uma figura mediática, mas era também o produto do que é a sociedade e os media contemporâneos, que têm de falar destas coisas, das vidas privadas dos reis, das rainhas, dos empresários, etc.”, destaca ainda Manuel Alegre.
Magalhães Silva, na altura assessor jurídico da Casa Civil de Jorge Sampaio em Belém, recorda a cobertura mediática e condena toda a atenção dada à questão. “Foi um exagero. Durante dois ou três dias, 24 sobre 24 horas, não se falava de outra coisa. Foi dos primeiros acontecimentos que teve um excesso de cobertura mediática, mas não foi o único. Outro que representou um insuportável excesso foi a cobertura mediática dada ao enterro do dr. Sá Carneiro”, afirmou o advogado.
Magalhães e Silva destaca a necessidade de voyeurismo de grande parte das pessoas relativamente a estes acontecimentos. “As pessoas têm tendência a olhar para esta situações como se fosse algo que tivesse acontecido em casa e acabam por reagir e ter necessidade de espreitar como se fosse um acontecimento próprio”, realça.
Uma característica aproveitada pelos média. “As televisões não resistem, não há nada que renda mais. Aquilo que a publicidade paga é de tal maneira que compensa todo o investimento feito pelas televisões neste diretos”, explica ainda.
Para o ex-assessor da Casa Civil de Sampaio, faz sentido dar-se a notícia e transmitir as cerimónias fúnebres, mas não explorar as emoções que as populações exacerbam nestas ocasiões. “Nestas alturas, as pessoas choram as suas dores, as suas ansiedades e os seus desgostos à boleia deste tipo de acontecimentos e é isso que as televisões depois aproveitam em excesso”, afirmou Magalhães e Silva, considerando estas abordagens “profundamente deseducativas”.