Levar sempre a manta na bagageira. É que se os ventos mudam – e bem sabemos que estes senhores não respeitam ninguém –, lá vêm as lamúrias dos amigos friorentos. E não, esta não é a manta do submundo dos oceanos, e ainda que possa ter um lado underground, o seu voo – podemos sempre optar por nado – não é rasteiro. Mais: esta manta é um ele. O Manta, esse encontro musical e geracional organizado pelo Centro Cultural Vila Flor (CCVF), em Guimarães, através d’A Oficina, chega esta sexta e sábado à sua décima edição, com concertos dos Capitão Fausto, The Thurston Moore Group e ainda de Valter Lobo e Alek Rein. Traga a sua. Manta, pois claro. E a ideia não é nossa, é o próprio Rui Torrinha que confessa que o nome nasce dessa ideia roubada ao piquenique, “dessa tranquilidade de assistir a um concerto com a manta, na relva. O nome vem dessa contextualização que quisemos dar ao público”, conta o programador.
Voltemos, portanto, a ocupar estes jardins que o CCVF nos cede. Já anteriormente ocupados por nomes como The National, Bishop Allen, Young Gods, Russian Red, Nite Jewel, entre tantos outros artistas e distintos formatos. “O Manta começou por acontecer em diferentes fins de semana, mas depois foi construindo o seu caminho, que é uma missão diferente daquela que segue uma promotora de espetáculos”, explica Rui Torrinha, antes de acrescentar: “Curiosamente, nunca lhe chamámos festival. Dei agora por mim a chamar-lhe este nome porque nunca o identificámos enquanto tal, mas já nos escapou da mão a possibilidade de não se chamar festival.”
Para a décima edição mantém-se a beleza dos jardins, o incrível enquadramento arquitetónico, mas duplicam os concertos. Valter Lobo abre para os Capitão Fausto e Alek Rein para Thurston Moore. E não só. Há novidades também na visibilidade: “Vamos tirar as torres laterais e suspender o PA [sistema de som] de forma a tornar mais fácil ver o palco para alguém que está nas laterais. No fundo, a amplitude do palco será maior”, adianta.
Os tempos arenosos da incerteza, da mudança, já lá vão, embora Rui Torrinha admita que não encontraram uma fórmula fixa, que “o festival vai sempre reinventar-se em alguns aspetos”. O que já é certo há alguns anos é que o Manta é sinal de rentrée, de olá-como-é-que-foram-as-férias, e de a resposta seguinte ser sempre a mesma: “Foram curtas.” É o Manta que trata de nos juntar à volta da fogueira, leia-se palco, que avisa Guimarães que, a partir de agora, o CCVF não vai parar e lá estará a dança, o teatro, a performance, a música.
Foquemo-nos nesta última. Qualquer alma atenta admite que há um burburinho qualquer em torno da música – imaginamos uma água gaseificada na sua primeira respiração, quando a tampa vai fora – vimaranense, ou, melhor, das gentes daqui, que exigem coisas boas. Culpa do Manta? “E também da programação do Café Concerto, do CCVF. Trouxemos gente que está muito bem, além da microcena que já temos aqui na cidade com os Toulouse, com os Paraguaii. Há aqui uma afirmação da cidade no aspeto da criação. É isso que tentamos fazer, numa escala maior, é esse lado autoral que gostamos de motivar. O provar que existem artistas para lá das modas e para lá dos tempos, progressivos. Temos este lado de resistir ao caminho fácil”, confessa. Demos todos a volta.