Sem gala de abertura, por respeito às vítimas do sismo que, no dia 24 de agosto, vitimou perto de 300 pessoas e praticamente apagou do mapa Amatrice. Ainda que sem festa, coube a “La La Land”, musical realizado por Damien Chazelle – uma estreia nesta competição, de um realizador com apenas 31 anos – e protagonizado por Ryan Gosling e Emma Stone.
Este é apenas um dos vinte filmes na competição principal desta 73ª edição do Festival Internacional de Cinema de Veneza, que será avaliada pelo júri, presidido por Sam Mendes, e que integra ainda a artista Laurie Anderson, as atrizes Gemma Arterton, Nina Hoss, Chiara Mastroianni e Zhao Wei, os realizadores Joshua Oppenheimer, Lorenzo Vigas, e o argumentista Giancarlo De Cataldo.
Da luta pelo Leão de Ouro constam ainda filmes como “On The Milky Road”, de Emir Kusturica, com Monica Belluci como protagonista; o documentário “Voyage of Time”, de Terrence Malick; “Paradise”, de Andrei Konchalovsky; “Les Beaux Jours d’Aranjuez”, de Wim Wenders; o regresso de Tom Ford, sete anos depois de “Um Homem Singular”, com “Nocturnal Animals”, protagonizado por Jake Gyllenhaal e Amy Adams; e “Jackie”, de Pablo Larraín, sobre Jackie Kennedy (Natalie Portman) nos dias que se seguiram ao assassinato de JFK.
Fora da competição, é de destacar o projeto assinado por Mel Gibson, aqui como realizador, o filme “Hacksaw Ridge”; bem como a presença da televisão, com a exibição dos dois primeiros episódios da minissérie “The Young Pope”, realizada por Paolo Sorrentino.
Em jeito de homenagem, o ator francês Jean-Paul Belmondo e o cineasta polaco Jerzy Skolimowski receberão um Leão de Ouro pelas suas carreiras. Mais, o festival de Veneza reconhece também o trabalho de “dois grandes realizadores recentemente falecidos” – Michael Cimino e Abbas Kiarostami – exibindo “O Ano do Dragão” (1985) e uma curta-metragem da série “24 Frames”, na qual o realizador iraniano estava a trabalhar quando morreu.
Apesar de o elenco de candidatos ser considerado dos mais interessantes da história do festival, esta não é uma edição positiva para o cinema português. Depois de uma Berlinale que contou com a maior representação portuguesa de sempre, em Veneza será apenas um, o representante português. “São Jorge”, o mais recente filme de Marco Martins, integra a Seleção Oficial do festival, na secção Orizzonti, dedicada às novas tendências do cinema mundial. Um regresso para o realizador que, em 2006, tinha integrado a seleção de Veneza com a curta-metragem “Um Ano Mais Longo”, escrita em parceria com o guionista italiano Tonino Guerra. Agora, Marco Martins está de volta – a Veneza mas também às longas-metragens, género que não assinava desde 2009, ano em que lançou “Como Desenhar Um Círculo Perfeito”.
“São Jorge” – que é exibido hoje, justamente na inauguração da secção Orizzonti – nasce na sequência de “Estaleiros”, projeto em que Marco Martins colaborou com trabalhadores dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo.
Havia o desejo, a urgência, de pensar os tempos que vivíamos. Os tempos da austeridade, os anos em que a troika tomou conta de Portugal. Mas se esta era a vontade do realizador, já Nuno Lopes, o ator que aqui regressa às longas de Marco Martins depois de “Alice” (2005), sonhava há muito com um filme sobre boxe.
Foi desta conjugação improvável que nasceu este “São Jorge”, um filme que deveria ser sobre um boxeur amador mas que acabou por ser sobre cobranças difíceis. Um homem que, para poder sobreviver, tratar do filho e da mulher, teve de começar a ameaçar outros que, tal como ele, têm dívidas para pagar. Este retrato de um Portugal em tempos de crise chega em novembro às salas nacionais.