O culminar da destituição de Dilma Rousseff abriu novas fendas com os tradicionais aliados de Lula e Dilma na América Latina – os países do eixo bolivariano –, que já no último ano viram a Argentina afastar-se do bloco. Na noite de quinta-feira, momentos depois da ascensão definitiva de Michel Temer à presidência, Venezuela, Equador, El Salvador e Bolívia ordenaram o regresso temporário dos seus embaixadores. Só Cuba não o fez, escolhendo em vez disso um comunicado em que declarava concluído “o golpe judicial e parlamentar”.
A Venezuela ameaça mesmo congelar as relações diplomáticas com o que diz ser “um governo que surgiu de um golpe parlamentar”, o que pode ter consequências no Mercosul, a que Caracas preside sem consenso dos restantes membros. A nota publicada pelo governo de Nicolás Maduro foi de tal maneira violenta – acusou Temer de chegar ao poder pela “fraude e imoralidade” – que o Ministério dos Negócios Estrangeiros do Brasil respondeu chamando o seu embaixador em Caracas e anunciando o “repúdio” pelo “profundo desconhecimento da Constituição e das leis do Brasil”.
Em pé de guerra com antigos aliados na América Latina – só a Argentina saudou o novo governo –, Temer avançava ontem numa outra frente diplomática. O novo presidente prepara-se para assinar 11 grandes contratos com empresas chinesas na sua viagem à reunião dos G20, incluindo o investimento de mil milhões de dólares na Petrobras. “Recebemos o país mergulhado numa grave crise económica”, disse Temer na noite de quarta-feira.