Miguel Cabrita: “Desemprego não desceu apenas com trabalhos sazonais”

Secretário de Estado do Emprego fala ao i sobre o mercado de trabalho. Redução de desemprego mostra “tendência positiva” mas subsistem “problemas graves”. Desemprego jovem e de longa duração é elevado e qualidade dos novos empregos é baixa

Os últimos meses têm mostrado uma redução consistente do nível de desemprego no país e, embora o secretário de Estado que tutela esta área não se mostre excessivamente confiante, garante que não são apenas os trabalhos sazonais de verão a criar postos de trabalho. “Os empregos sazonais existem todos os anos, mas agora os níveis de emprego estão mais altos. Isso indica que não estamos perante o ciclo normal de sazonalidade. A recuperação vem de trás, antes do verão”, justifica ao i o secretário de Estado do Emprego, Miguel Cabrita.

Pelos cálculos do governo, com base em dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), o número de postos de trabalho criados nos primeiros sete meses é o mais elevado dos últimos três anos.

O organismo de estatística revelou esta semana que, em julho, a taxa de desemprego terá atingido 11,1%, acentuando a trajetória descendente que se verifica desde fevereiro de 2016. 

A população desempregada estimada foi de 567 mil pessoas e a população empregada foi de 4,6 milhões de pessoas. Desde o início do ano há mais 76 mil empregos – o que supera a criação de trabalhos no ano passado e em 2014.

“Este ano há, pela primeira vez, um alinhamento entre criação de emprego e redução da taxa de desemprego [que pode diminuir por motivos menos positivos como, por exemplo, haver menos população ativa com a emigração]”, acrescenta Miguel Cabrita.

IEFP confirma melhoria Os dados positivos revelados esta semana pelo INE somam-se a outros sinais de melhorias no mercado de trabalho. O Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP) revelou na semana passada que, no final de julho deste ano, estavam inscritos nos centros de emprego 498 mil de-sempregados. É o valor mais baixo desde julho de 2009 e a primeira vez em sete anos que este indicador desce abaixo das 500 mil pessoas. 

Segundo o IEFP, “a desagregação por ramo de atividade económica permite observar uma diminuição generalizada [do desemprego] na maior parte das atividades económicas”. 

E os dados divulgados pelo IEFP confirmam, por sua vez, a tendência de recuo do desemprego no segundo trimestre, em que a taxa oficial de desemprego caiu para 10,8% – novamente segundo dados trimestrais do INE, mais completos.

Estes valores devem-se em muito ao número de postos de trabalho gerados em setores como a agricultura, hotelaria e restauração – no total, representam mais de dois terços da criação de emprego. A boleia dada por todos estes setores ajudou a que fossem criados 89 mil postos de trabalho líquidos.

Só no caso da agricultura foram criados em apenas três meses mais de 33 mil empregos, o que representa, de acordo com o INE, o valor mais alto desde 2011. 

Já no caso do turismo, o impacto positivo vê-se sobretudo na queda abrupta do desemprego principalmente na zona do Algarve.

Miguel Cabrita admite que a agricultura e o turismo estão a ter um papel relevante na criação de emprego, mas frisa que há outras áreas a mostrar dinamismo. “Há uma tendência positiva que dura há meses. Há menos desemprego jovem e de longa duração, mas temos de ter cautela porque ainda há problemas graves no mercado de trabalho”, admite o secretário de Estado.

Disfunções laborais O governante explica o que ainda o preocupa: o nível geral de desemprego, embora tenha descido, ainda é historicamente elevado. O desemprego jovem e de longa duração está em níveis altos. A qualidade do emprego criado deixa ainda a desejar, com Portugal a registar contratos não permanentes acima da média europeia , sobretudo nos jovens. “Na Europa, o principal motivo para haver contratos não permanentes é a possibilidade de acumular o trabalho e os estudos. Mas em Portugal é a falta de oportunidades permanentes”, lamenta o secretário de Estado, que garante que o governo está a atuar para diminuir as dificuldades que ainda subsistem, com o relançamento das políticas ativas do emprego orientadas para estas questões. Entre as medidas enumeradas pelo governante estão prémios para a criação de emprego e para a contratação de jovens e de desempregados de longa duração.