Recorda-se onde ficámos no final da primeira temporada? La Catedral em chamas, invadida por uma coluna militar com meios quase inéditos na história colombiana. Quatro mil soldados, dois mil e cem homens das forças de elite colombianas, sete cães e quatro helicópteros. Dão-nos os números porque são sempre trunfos de algibeira, tijolos para reforçar e entender a dimensão da nova proeza de Pablo Escobar. No meio do mato e da cordilheira que rodeava La Catedral, escondido na penumbra e com meia dúzia de homens – os que sobraram da chacina que defendeu o seu patrão – não havia como escapar. Sim, mas como tantas personagens dizem durante a história, e como nós, consumidores invertebrados da sua epopeia sangrenta, nos habituámos a dizer: nada é impossível para Pablo Escobar. Portanto devemos-lhe respeito.
A fuga dá-se com a classe de sempre, o tamanho das artimanhas do traficante parece nunca encurtar, há sempre um esconderijo, há sempre mais alçapão secreto. Durante este primeiro episódio urge também a ideia que já vinha da primeira temporada: a coleção de aliados e inimigos de Escobar não tem fim. À mesa com os seus súbditos Pablo faz questão de lembrar que é bom que todos se curvem, porque eles são o Cartel de Medellín. Só que essa lógica de vénia obrigatória não cai bem a todos, sobretudo à viúva de Kiko Moncada, Judy. Lembremos que Escobar matou Kiko e Galeano durante a primeira temporada por suspeitar que ambos – os dois homens que geriram o negócio nas ruas enquanto Escobar teve preso – o estivessem a roubar.
Pois parece que é por esses pântanos que Escobar vai ter que se arrastar durante esta série, isto ainda que não tenhamos a certeza que Judy Moncada e os seus escudeiros – que se recusam a cooperar com o patrão do narcotráfico – saibam no que se estão a meter. O mesmo se pode aplicar ao próprio Escobar, que prossegue o bate-pé com o presidente Gaviria, que parece não estar para ceder a notas de sangue. Calma, a ginástica anti-spoiler aqui vigente só foi retirada do primeiro episódio. Quanto ao resto já se sabe que é nesta temporada que Pablo_Escobar vai morrer. Sobra achar o maldito que o fez. Vá com calma, que isso são quinhentos para queimar mais à frente. E não vai querer ver os dez episódios de empreitada e ficar a chorar de saudades, pois não? “Narcos” continua a ser “el fuego que arde tu piel”.