OFF September: a dançar é que a gente se entende

Arranca hoje – e estica-se por todas as sextas de setembro – uma festa, com espaço para conversas, totalmente no feminino. O Village Underground, em Lisboa, é a casa-mãe

Por vezes é simplesmente esquecimento. Ou porque se vai um, vai o outro. E claro, sintam-se à vontade para trazer os respetivos. O OFF September é filho deste autocarro onde cabe sempre mais um. Ou talvez nem tanto. Certo é que, quando se fez luz para Mariana Duarte Silva, do Village Underground, há cerca de um ano, o acontecimento era para se ficar por uma noite. Conversa puxa conversa, pela noite fora, lá está, e Mariana Duarte Silva e Sonja, curadora do line-up, perceberam que os nomes que iam surgindo, em mero ping-pong, eram demasiados para serem empacotados exclusivamente numa ocasião. O OFF September é a festa de celebração feminina que vai ocupar o Village Underground setembro inteiro. 

Mary B, Caroline Lethô, EMAUZ, Sonja, Violet, Sheri Veri, Inês Duarte, entre outras, compõem as cinco sextas-feiras de setembro. Depois, claro, como sempre acontece no Village Underground a música não vem só. Aliás, digamos corretamente o nome do evento – OFF September: Talks & Dancing. “Pensei que, se era para fazer cinco noites, então vamos juntar aqui mais qualquer coisa para não ser apenas festa pura e dura. Então pensei em começar com umas conversas de mulheres que pertencem a várias áreas criativas e ainda a comida, porque se a festa é das 19h às 03h convém darmos comida às pessoas e promovermos algumas chefes. Foram peças que se foram juntando ao puzzle”, explica Mariana. 

A mesma que admite que o tema pode ser sensível, ou, vá lá, interpretado de várias formas. E isso, quer queiramos quer não, pode ter a valência pouco positiva de afastar aqueles que nunca liam bem os textos nas aulas de língua portuguesa: “É um evento para toda a gente. Não quero que isto seja visto como uma coisa das mulheres para as mulheres. Ontem tive receio porque me disseram que estava a criar um movimento e não é nada disso, nem sequer há aqui nada de muito político, o que há é a minha vontade de mostrar o potencial feminino nesta área. Existem cada vez mais mulheres a fazerem música e eu tenho um espaço onde as posso promover, não é tanto a luta pela igualdade de género”, clarifica. E por essa, Mariana Duarte Silva conta-nos um episódio recente que viveu no Forte, festival de eletrónica em Montemor-o-Velho, isto após a interrogarmos se uma mulher, como em tantas outras coisas mundanas, é mais sensível na hora de pegar nos pratos. “De facto, acrescentam qualquer coisa especial na pista, uma sensibilidade qualquer que não consigo explicar. Fui ao Forte o fim de semana passado e vim boquiaberta com o set da Helena Hauff, uma coisa tão dura, quase que me arrisco a dizer masculina, mas linda. Portanto, é um caso de uma mulher que partiu a pista como quase nunca vi, um set de uma mulher não tem que ser necessariamente mais leve”. 

Quanto às conversas, tanto temos Eleanor Legge-Bourke, repórter freelancer que vem falar de Portugal e da nossa dimensão enquanto barómetro da nossa autoestima, como há Violet e Emauz a explicar os recantos da produção, a vertente mais técnica da música. “Há conversas para todos os gostos”, avisa Mariana. Esperamos o mesmo da música. E da comida, pois claro.