A família de Rúben Cavaco não vai ser dura na justiça com os filhos do embaixador iraquiano. O i sabe que a estratégia da defesa passará por ir decidindo a cada passo qual a melhor saída, de modo a que sejam reparados os danos causados ao jovem. “De que nos serve que sejam presos”, questiona uma fonte da família que preferiu não ser identificada, mas que confirmou ser também essa a política do advogado que escolheram, Santana-Maia Leonardo.
Longe vão os dias em que o advogado criticava na imprensa a tese de Ridha e Haider, os dois filhos do embaixador do Iraque em Lisboa. A posição que definiu logo após o espancamento – refutando a hipótese de se tratar de um episódio de legítima defesa – deu lugar a uma bem mais favorável aos interesses dos estrangeiros.
Contactado pelo i, o advogado não quis prestar declarações sobre esta matéria, mas fonte familiar garante que Santana-Maia tem repetido a ideia de que é preciso perceber o “país onde estamos”, referindo que em Portugal, muitas vezes, as pessoas são condenadas a pagar indemnizações e não cumprem.
Para a defesa, mais importante do que a prisão – caso haja levantamento da imunidade – é o ressarcimento. Até porque, explicam pessoas que conhecem a família, trata-se de um agregado pobre que ainda não sabe se o jovem precisará de acompanhamento para o resto da vida: “De que servem sentenças bonitas do tribunal?”
O i sabe ainda que não terão existido conversas formais com a embaixada, mas que a família sentiu que, com a entrega de flores, o diplomata estava sensível à gravidade da situação.
Fonte da PJ, que preferiu não se identificar, assegura que a investigação prossegue e que neste caso como em todos os outros deste género estará “naturalmente atenta a todas as movimentações [entre as partes]”.
É cedo para saber desfecho Apesar de ainda ser muito cedo para se saber qual o caminho que será levado até ao final do caso, até porque a investigação ainda decorre e ainda se espera a resposta ao pedido de levantamento de imunidade, a defesa acredita que o mais importante é não levantar ondas e agir sempre de forma muito racional, sem emoções.
A perspetiva é a de que, independentemente de haver ou não levantamento de imunidade, pode haver um desfecho positivo neste caso – e que passará, naturalmente, por uma indemnização.
Ainda que o crime de tentativa de homicídio se trate de um crime público – e, portanto, o desfecho não poderá ser alcançado por acordo entre as partes –, é benéfico para os alegados agressores que a família da vítima mantenha esta postura de compreensão.
Ainda não é sabido se o Estado iraquiano vai ou não levantar a imunidade, que é válida não só para os processos-crime como para os cíveis e administrativos.
Está a apresentar melhorias A abertura da família acontece numa altura em que o jovem apresenta melhorias e só se esperam os resultados de alguns exames para se saber se ficará ou não com sequelas para a vida.
Segundo Santana-Maia Leonardo, o rapaz não tem qualquer ferida abaixo da cabeça.
Relativamente à tese de um atropelamento, ainda a ser investigada pela PJ, o advogado afirma que “só se foi um toque”: “Não foi uma grande porrada, porque uma semana depois não tinha marca nenhuma abaixo do pescoço.”
Admitindo que possa ter havido “um toque do carro”, terá sido só para “desequilibrar e cair”.
Sem dentes e a cara inchada Segundo o i apurou, a cirurgia à face de Rúben Cavaco já foi feita com sucesso.
“Ele já se parece com o que era, mas ainda está cheio de cicatrizes, coágulos, teve drenos para tirar o sangue da cabeça”, contam alguns familiares, adiantando que “hoje, quando se olha para ele, já está muito parecido ao que era.”
Mas há muitas coisas a fazer até que Rúben ultrapasse as marcas das agressões. Em primeiro lugar é preciso saber o resultado dos exames oftalmológicos, neurológicos e da ressonância magnética.
Depois, ainda terão de ser feitos alguns implantes dentários, uma vez que lhe terão partido vários dentes naquela noite, nomeadamente os da frente.
A tese do Segurança Após vários dias de investigação, os inspetores da Polícia Judiciária não descartam a hipótese de os irmãos Haider e Ridha estarem acompanhados de um terceiro elemento – que seria ou um segurança ou um motorista – na noite das agressões. A notícia foi avançada pelo semanário “SOL” e dava conta de que, a confirmar-se a presença dessa terceira pessoa, ficariam respondidas muitas das questões que ainda estão em aberto para a investigação, nomeadamente as que dizem respeito à condução do carro com matrícula do Corpo Diplomático.
Isto porque, após a primeira vez em que a GNR foi chamada a intervir naquela madrugada e levou os dois gémeos para casa – bem como o carro do Corpo Diplomático –, os jovens de 17 anos terão regressado à rua e ido de carro até ao local onde Rúben foi violentamente espancado. E há testemunhas que garantem que não eram eles quem ia a conduzir.
As perícias à roupa dos dois iraquianos, para testes de ADN, também permitirá perceber se é ou não possível que tenham sido eles os autores das agressões, ou se tiveram ajuda. Ouvidas por aquele semanário, fontes policiais adiantaram que, numa situação deste género, numa localidade do interior, o normal seria que os jovens, menores e filhos de um diplomata, andassem com um motorista, que poderia desempenhar a função de segurança.
“Julgamos que ainda não estão completamente clarificadas todas as circunstâncias do que aconteceu naquela noite”, explicou ao “SOL” uma fonte da PJ conhecedora da investigação, adiantando ser fundamental o levantamento da imunidade diplomática para que se possa ouvir os jovens sobre alguns pontos, nomeadamente para perceber se estavam acompanhados: “Os circunstancialismos são os que sabemos, há uma legislação limitativa. É como obter o depoimento de uma criança, o que só pode acontecer com a autorização dos pais.”