Os três secretários de Estado que foram a Paris ver a final do Euro, pagos pela Galp, venderam a alma ao diabo. Aceitaram uma viagem e um bilhete que valem uns milhares de euros, um mês do seu salário como governantes. O país precisa de elites, mas tem de ter mão nelas. É por isso que os governantes e os funcionários públicos – que têm por missão controlar as elites – não podem aceitar presentes vindos daí.
Uma das tarefas fundamentais dos governos é, justamente, controlar as elites e redistribuir os recursos existentes. Sem redistribuição, só há injustiça e desigualdade social. A situação é particularmente grave em Portugal, um país de brutais desigualdades – pelo que temos de concluir que a redistribuição tem sido muito mal feita.
Quando um Estado não controla as elites mais ricas e poderosas do país, estas tomam conta do regime, do governo, dos partidos. Usam-nos em proveito próprio, prejudicando todas as outras pessoas.
Alguém tem dúvidas de que foi isso que se passou nos bancos? Na CGD, com um buraco de 5 mil milhões e o despedimento de 3 mil trabalhadores? Ou acha-se que a CGD chegou a este ponto por emprestar dinheiro para os pobres e remediados comprarem casa na Brandoa ou em Odivelas?
Os ricos e poderosos têm sempre como cuidar de si próprios. Têm recursos financeiros praticamente ilimitados, serão sempre a parte mais forte. Só o Estado pode obrigar as elites a aceitarem as mesmas leis a que todos os outros têm de obedecer, porque só o Estado tem o monopólio do uso da força e da administração da Justiça.
Mas um país não existe sem elites económicas, financeiras, empresariais. São as elites que criam riqueza, e por isso têm de ser preservadas. Todavia, não podem ter leis à sua medida nem viver de rendas e monopólios. Este é o busílis: nem perseguir os criadores de riqueza, nem deixá-los mandar.
Esta tensão entre o setor público e o setor privado vai existir sempre. O tamanho de cada setor e a delimitação da fronteira foi, historicamente, o maior motivo de discórdia política entre a direita e a esquerda.
A esquerda é acusada de perseguir as elites económicas. A direita é acusada de ceder aos interesses dos grandes grupos económicos.
O Estado português quer ainda que os cidadãos cumpram a lei, respeitem a autoridade e paguem impostos diretos e indiretos (os mais altos de sempre). Ou seja, António Costa quer (e precisa) que o seu Governo tenha autoridade para vergar grandes e pequenos. A ideia generalizada de que os funcionários e os políticos são corruptos mina a legitimidade do Governo aos olhos do cidadão anónimo.
Os três secretários de Estado foram fazer aquilo que quase 10 milhões de portugueses (15 com os emigrantes) gostariam de ter feito, mas como não são governantes e não têm nada para dar, vender ou trocar, nenhuma empresa privada os convidou.
António Costa não percebeu que perdeu autoridade ao não os demitir. Diz agora que vai fazer um ‘código de conduta’. Não gastem muito papel. Basta uma folha em branco com uma simples frase: «Não se vendam».