Abu Muahammad al-Adnani era o principal dirigente sírio do Estado Islâmico (EI), as suas tarefas na organização eram vastas: era porta-voz do califado na Síria e era responsável máximo pelos comando que executavam atentados no estrangeiro, como nas cidades de Bruxelas e Paris.
A sua morte, na terça feira, é reivindicada pelos Estados Unidos da América e pela Rússia. Os americanos garantem que morreu quando o veículo que seguia, nos arredores de Alepo, foi alvejado por um drone. O Ministério da Defesa russo, por sua vez, afirmou, em comunicado, que Adnani, 39 anos, tinha sido morto em resultado de um ataque de um caça-bombardeiro SU-34 na área de Alepo. Segundo a mesma fonte, nesse ataque teriam sido mortos Adnani e mais 40 militantes do EI. «Essas mortes foram confirmadas por várias fontes dos serviços secretos no terreno», conclui o comunicado. O presidente da Comissão de Defesa do Parlamento russo, Vladimir Komoyedov, congratulou-se em declarações à agência Interfax: «Esta operação foi um enorme sucesso».
Depois desse anúncio de Moscovo, o porta-voz do Pentágono, Peter Cook, reafirmou ter sido um drone Reaper americano o responsável pela liquidação do dirigente do Estado Islâmico: «Fomos nós que o matámos», lançando, em resposta, a farpa aos responsáveis militares russos, «desde o princípio, a Rússia passou a maior parte do tempo [da sua operação militar] a apoiar o regime de Bashar al-Assad e não dedicou muito dos seus esforços a atacar a liderança do Estado Islâmico e, durante esse tempo, nunca vimos as forças russas a usar armas de precisão de maneira regular. Se a sua forma de atuação mudou, seria positivo», ironizou.
Os EUA acusam Moscovo de intervir na Síria, sobretudo, para defender os seus aliados do Governo de Damasco; por seu lado, os russos afirmam que, antes da sua intervenção, o Estado Islâmico estava em ofensiva e a expandir-se territorialmente, muitas vezes com o apoio material e humano dos chamados rebeldes sírios moderados, aliados dos americanos.
A terceira parte envolvida nestes acontecimentos, o Estado Islâmico, confirma a morte do seu dirigente, mas não esclarece quem o matou. Sobre o efeito militar e político da morte de dirigentes do Daesh, o agora morto Adnani já tinha expressado, há uns tempos, a sua opinião: «Ó América, vocês pensam que conseguem vencer-nos matando um líder ou outro?», recordando que tanto a morte do chefe da Al-Qaeda no Iraque e na Síria, Al-Zarkawi, como a do líder dessa organização, Ossama bin Laden, não tinham liquidado os movimentos que estes homens tinham lançado.
Segundo afirmam fontes do Pentágono, citadas pelo The New York Times, a coligação militar dirigida pelos EUA já matou cerca de 120 dirigentes do EI, incluindo 12 dos seus máximos chefes.
Apesar destes resultados, a organização tem-se mostrado bastante resistente e com capacidade de substituir os seus quadros. O especialista William McCants, autor do livro The ISIS Apocalipse, garante que a organização terrorista tem planos de contingência para a substituição dos seus líderes, incluindo do proclamado califa, Abu Bakr al-Baghadi.
Nos próximos dias, estará marcado uma shura, conselho de chefes do movimento, na cidade síria de Raqqa, para escolher o sucessor de Adnani. Na calha para a sucessão do antigo porta-voz estão, nas palavras de analistas citados pelo jornal americano, dois nomes: Turki al-Binali, 31 anos, um dos mais destacados clérigos do EI, originário do Bahrein, que se juntou às forças do Daesh na Síria em 2013, e que é apontado como dirigindo o departamento de propaganda do Estado Islâmico e de ter sido o teorizador, na revista teórica do movimento, da ‘legalidade’ no Corão da escravização e violação de mulheres capturadas; o segundo nome falado para o cargo, é o de Abu Luqman, que foi o primeiro responsável da organização pela cidade de Raqqa, e que é considerado o homem que traçou a estratégia militar do Estado Islâmico na cidade de Alepo, até 2015. Luqman já foi dado várias vezes como morto em bombardeamentos, mas a sua morte nunca foi confirmada.
O Estado Islâmico, desde as conquistas das cidades de Ramadi no Iraque e Palmira, na Síria, em maio de 2015, tem perdido grande parte do território, que já foi equivalente ao do Reino Unido. As tropas do EI já não ocupam nenhuma localidade na fronteira entre a Turquia e a Síria, têm muitos combatentes cercados na cidade de Alepo e veem as forças curdas aproximarem-se de Raqqa.