“Se estás no teu bairro, não duvides em chamar a polícia ou então fá-lo tu mesmo, se tiveres uma pistola, tens o meu apoio”. Esta frase, proferida por Rodrigo Duterte, durante a última corrida presidencial nas Filipinas, fazia parte de uma promessa eleitoral arrojada: acabar com os crimes relacionados com o tráfico de droga no país, num prazo de 6 meses, matando 100 mil pessoas.
Quase três meses depois de ter sido eleito presidente daquele arquipélago do sudeste asiático, com mais de 100 milhões de habitantes, Duterte continua a colecionar frases polémicas – a mais recente foi ter chamado “filho de uma prostituta” a Barack Obama, depois de este ter criticado os resultados do tal plano que, até agora, vitimou mortalmente perto de 2500 pessoas.
Os discursos incendiários, carregados de “ameaças, insultos e palavrões”, nas palavras do jornal espanhol “El País”, são uma arma de propaganda política que o líder filipino não dispensa e que fazem dele o “exemplo extremo do político populista”. O Papa Francisco, o secretário de Estado dos EUA, John Kerry, e até Donald Trump, candidato a Washington, também adepto da estratégia confrontacional, foram alguma das figuras públicas que já sentiram na pele o sarcasmo e a ira de Duterte.
Nascido em 1945, no seio de uma família com laços estreitos com outras importantes da província filipina de Cebu, Rodrigo Duterte trabalhou como advogado antes de chegar a vice-alcaide de Davao, em 1986, na sequência da revolta popular que afastou Ferdinand Marcos do poder. Dois anos depois chegou mesmo a alcaide daquela cidade que conta com perto de 1,5 milhões de habitantes, cargo que ocupou durante duas décadas – com algumas interrupções pelo meio – antes de se lançar à corrida presidencial, cujo resultado fez dele o dirigente máximo das Filipinas, em maio de 2016, para os próximos seis anos.
“Cresceu numa família relativamente privilegiada (…) e emergiu como um político numa região fronteiriça sem lei”, contava o advogado filipino, Ruben Carranza, ao “El País”, poucos dias após a sua eleição. “Impor o poder político sem recorrer à lei, mas à violência, era uma tentação (…)”, recordou, antes de advertir que apesar de essa estratégia ter “funcionado em Davao, nos anos 90”, será pouco provável que a mesma possa ser replicada “no resto do país, 30 anos depois”.
A verdade é que, argumenta a BBC, durante o tempo em que esteve em Davao, Duterte fez da cidade “uma das mais seguras das Filipinas”, pela forma implacável como combateu a corrupção e o tráfico, realidade que quer “replicar a nível nacional”.
A reputação que conquistou valeu-lhe a alcunha de “Castigador” ou “Duterte Harry” – esta última em alusão à personagem protagonizada por Clint Eastwood, Harry Callahan, no célebre filme dos anos 70, “Dirty Harry – A Fúria da Razão”(“Perseguidor Implacável”, na versão brasileira) um polícia arrogante, que não olhava à lei na luta contra o crime, nas ruas de São Francisco.
“Esqueçam as leis sobre direitos humanos. Se chegar ao palácio presidencial, farei o mesmo que fiz enquanto alcaide”, apregoava Duterte durante a campanha, citado pela BBC. “Traficantes de droga (…) é melhor irem-se embora. É que vou matar-vos, largar-vos na baía de Manila e engordar todos os peixes que lá vivem”, chegou a ameaçar num discurso.