Lisb-on: Um jardim para esquecer os muros musicais

Arranca amanhã a terceira edição do festival que permitiu descobrir um recanto do Parque Eduardo VII, em Lisboa, mas sobretudo deixou descobrir que isso das fronteiras entre estilos musicais faz cada vez menos sentido. Dez destaques da programação, numa viagem que vai do jazz à house music, com passagem obrigatória pelo disco e pela bossa…

Dia 9, 15h45

Sweat & Smoke

Já se tornou uma tradição: o Lisb-on serve sempre de palco para a apresentação de novos projetos. É o caso dos Sweat & Smoke, banda composta pelo produtor e DJ Isac Ace e por Guillaz, baterista dos antigos Braindead e dos Da Weasel.

A dupla cruzou-se pela primeira vez em 2015 e o gosto comum pelo funk e electro funk, serviu de inspiração criativa para os primeiros acordes. A tentativa e erro ganhou entretanto forma de álbum, pronto para ser apresentado pela primeira vez no Lisb-on, na companhia de alguns convidados. A julgar pelo single “Reach 4 The Sky”, que conta com a voz de Noem Zy, é caso para preparar a memória para uma viagem. E as ancas para uma boa dose de balanceio.

 

Dia 9, 18h10

Escort

O ideal é que as ancas já tenham aquecido com os Sweat & Smoke, porque não é de esperar que os Escort deixem ficar alguém quieto. Não há bolas de espelhos, que o céu aberto não permite, mas mais disco e house music será difícil, como que numa viagem rumo às pistas do final dos anos 70 e início dos 80, onde o spandex não era um crime de lesa-pátria – isto apesar de os Escort terem sido criados apenas em 2006. Com seis elementos, numa composição semelhante à de grandes bandas, como os Earth, Wind & Fire, o projeto criado originalmente por Eugene Cho e Dan Balis, deve muito da sua força sexy e poderosa a Adeline Michéle. Desconfiamos que, no final, muitos serão os suspiros pela vocalista de origem francesa.

 

Dia 9, 16h55

Tender Games

Quando questionados acerca das suas influências, Hulrich Harrison a.k.a. e Marlon Hoffstadt respondem Deehunter, Radiohead, R Kelly, Isley Brothers, SBTRKT, Jamie XX, Charles Bradley e Danny Brown. Se calhar o texto podia terminar por aqui, pois já não sobram dúvidas do tipo de viagem a que se propõem os Tender Games. Naturais de Berlim, são hoje em dia considerados uma das duplas mais surpreendentes, não esquecendo também as suas carreiras a solo, sobretudo HRRSN que dirige a Well Done Records. Para tal, muito contribuiu o seu álbum de estreia, lançado em 2014, “Tender Games”, um provocador casamento entre house, techno e pop.

 

Dia 9, 19h25 

Herbert

Um génio conduzido por sons pouco convencionais. É desta forma que o Lisb-on apresenta Mathew Herbert e se tivermos em conta que o músico já utilizou, nas suas criações, o barulho de alguém a trincar uma maçã, de talheres num café parisiense, de jornais a serem rasgados ou eletrodomésticos, a apresentação faz todo o sentido.

Seja em nome próprio ou nos vários projetos em que já esteve envolvido, pelo prazer de fazer música dançável ou declarações políticas, o diretor criativo do BBC Radiophonic Workshop é um criador com um pensamento por detrás e um caminho para seguir pela frente. E mais recentemente esse caminho trouxe-o de regresso à cabina do DJ e às pistas de dança. Ritmos cheios de teorias.

 

Dia 9, 21h00 

Dixon

Olhar compenetrado e uma coleção de camisas única. Por si só este já seria um curioso cartão de visita para Steffen Berkhahn. Mas o east berliner Dixon é, aos 41 anos, muito mais do que só um olhar e boas camisas. Deixou para trás uma carreira no futebol – mas não o amor ao desporto, sendo diretor de um clube, o FC Magnet Mitte – para se entregar à house music. A tocar há mais de duas décadas – e patrão da Innervisions, Dixon é provavelmente dos DJs mais inteligentes da atualidade, capaz de experimentar o inimaginável para logo a seguir o transformar em incontornável. Num dos seus mais recentes DJ sets, feito em parceria com Ame para a BBC Essential Mix, incluiu um fado de Amália Rodrigues.

Dia 10, 17h30

Azymuth

Banda brasileira formada em 1973 – na altura em parceria com Marcos Valle -, foi apenas quando se mudaram para os EUA que José Roberto Bertrami (que morreu em 2012, tendo sido substituído por Kiko Continentino), Alex Malheiros e Ivan Conti conheceram o sucesso. Símbolos da música instrumental feita no Brasil, foram os próprios Azymuth a encontrarem a definição para a música que faziam: “samba doido”, expressão que alude à mistura de samba, jazz, funk e soul.

Com o advento do acid jazz, os Azymuth tornaram-se uma banda de culto, tendo, ao longo de mais de 40 anos de carreira, lançado perto de 30 álbuns, dos quais se destacam temas como  “Linha do Horizonte”, “Melô da Cuíca”, “Voo sobre o Horizonte” e “Jazz Carnival”.

 

Dia 10, 18h35 

DJ Harvey

Respirar fundo e fazer uma vénia. É o mínimo perante uma lenda como Harvey. Desde a década de 1980 que faz das cabinas a sua casa e a sua linguagem musical tem influenciado DJs por todo o mundo, sobretudo porque se há alguém que tem ensinado que isso do preconceito é coisa feia (e estúpida) é ele – afinal, o próprio começou o seu percurso na música como baterista de uma banda punk e daí seguiu para organizar as Tonka Soundsystem, festas em Brighton, onde começou a construir a sua carreira como DJ. A revista “Rolling Stone” comparou-o a Keith Richards, dos Rolling Stones, além de o integrar na lista dos 25 DJs que controlam o mundo. Ah, e Harvey adora surf e diz-se que conhece todos os melhores spots em Portugal.

 

Dia 10, 21h05 

Tale of Us

De acordo com a publicação especializada “Mixmag”, os Tale of Us foram os DJs do ano de 2015. A nomeação deve muito – ou tudo – à intensidade do som criado pela dupla italiana. Karm e Matteo conheceram-se na Universidade de Milão e, em 2009, resolveram virar costas ao conforto dos pratos de pasta da mamma e rumar a Berlim. Consigo levaram apenas duas malas e duas mesas de mistura, mas um excesso de bagagem de vontade de vencer na música eletrónica. Menos de um ano depois captaram a atenção do mundo com a remistura que fizeram para o tema “Disco Gnome”, dos Thugfucker, e logo de seguida editaram através da Visionquest e integraram compilações da Cocoon e da Barraca Music. No Lisb-on têm a difícil (ou inspiradora) tarefa de tocar a seguir a DJ Harvey.

Dia 11, 15h45 

Marcos Valle

Parece impossível, mas é a primeira vez que o cantor e compositor brasileiro vai tocar em Portugal. Um marco, não apenas para a música brasileira, desde os revolucionários anos 60 que Marcos Valle ziguezagueia pela bossa nova, samba, pop, funk e rock como quem não entende porque têm de estar separados. Aprendeu a tocar piano com apenas seis anos e aos 20 compôs “Samba de Verão”, tema fundamental da história da música brasileira, tendo depois trabalhado com Tom Jobim e João Gilberto. Já nos anos 70 politizou a sua carreira, fator visível nos álbuns “Garra”, “Vento Sul” e “Previsão do Tempo”. Mais recentemente tornou-se uma figura de culto para DJs de eletrónica, prova inequívoca de como a música serve a música.

Dia 11, 18h45 

Jungle

Se as visualizações no Youtube definissem a popularidade e talento de uma banda, os Jungle são uns dos vencedores deste Lisb-on. Os ingleses Tom McFarland a.k.a. T e Josh Lloyd Watson a.k.a. J são amigos desde a infância e essa cumplicidade galgou muros rumo aos palcos, em grande parte inspirada pelos ritmos boogie dos anos 70 e 80. Fascinados pela ideia da construção de um conceito artístico que vai além da música, conheceram o sucesso logo com o seu primeiro videoclip. O single “Platoon” (2013), protagonizado por uma criança de seis anos a dançar, depressa se tornou viral e determinou que a banda nunca deixasse de apostar na criação de vídeos fortes e originais. Em palco, a dupla transforma-se numa banda de sete elementos. A festa é garantida.