Saúde de Hillary Clinton: conspiração, preocupação ou pneumonia?

Hillary obrigada a cancelar os próximos eventos da campanha depois de lhe ser diagnosticada uma pneumonia, dando azo a especulações sobre o seu real estado de saúde 

A candidata presidencial democrata foi diagnosticada com uma pneumonia na passada sexta-feira, mas esta informação só foi tornada pública no domingo, já depois de Clinton se ter sentido mal numa cerimónia de homenagem às vítimas do 11 de Setembro, em Nova Iorque, situação que a obrigou a abandonar o local em aparentes dificuldades.

“Clinton tem estado com tosse devido a alergia”, explicou Lisa Bardack, num comunicado tornado público no domingo. “Na sexta-feira, depois de uma avaliação da sua tosse prolongada, foi diagnosticada com pneumonia”, anunciou a médica da candidata, que também referiu que a indisposição de Hillary, nessa manhã, se deveu a “desidratação”.

Numa campanha com tamanho impacto mediático como é a corrida presidencial norte-americana, não é de todo estranho verificar que, à medida que o dia da eleição se aproxima, vai crescendo um certo tipo de rumores que se podem enquadrar na categoria do “vale tudo” – basta relembrar um boato difundido em 2008 que sugeria que o então candidato democrata, Barack Obama, tinha nascido em África e que praticava, em segredo, o culto muçulmano.

Mas o que parecia ser, ao início, uma grande teoria da conspiração, passível de se enquadrar na categoria acima identificada, criada pela ala republicana norte-americana e prontamente ridicularizada pelos democratas, pode muito bem começar a ser hoje um grande problema para a candidatura de Clinton à Casa Branca.

É que a sucessão de comunicados partilhados pela equipa de campanha democrata durante os últimos dias, com diferentes explicações sobre a situação clínica de Hillary e, principalmente, a omissão do diagnóstico de pneumonia, conhecido desde a semana passada, começam a levantar suspeitas sobre o real estado de saúde de Clinton, ainda que Bardack tenha referido que a antiga secretária de Estado de Obama esteja a “recuperar bem”.

A questão à volta da saúde de Clinton poderá vir a ter mesmo uma especial importância tendo em conta que, no mês passado, Donald Trump, o candidato republicano, sugeriu que Hillary não tinha a “resistência física e mental” necessárias para enfrentar o autoproclamado Estado Islâmico. A essas declarações juntou-se um coro de suspeitas por parte de figuras públicas ligadas ao Partido Republicano – alimentado pela voraz comunicação social dos EUA – que acusavam a campanha democrata e a própria candidata de estarem a esconder um “problema de saúde grave” de Clinton.

Saúde pode mesmo ser tema “O que têm de fazer é ir online, escrever ‘Hillary Clinton doença’ e dar uma olhadela aos vídeos”, propôs Rudy Giuliani, antigo mayor de Nova Iorque e apoiante de Trump, no final do mês de agosto, no programa “Fox News Sunday”.

Inúmeras teorias surgiram, pois, sobre a saúde de Hillary, e todos os pormenores do seu comportamento em público foram analisados à lupa. Os ataques de tosse, as gargalhadas exageradas, o uso de almofadas de apoio e até uma ida à casa de banho mais demorada durante um debate televisivo serviram para sustentar a tese de que a candidata padecia de um dos seguintes diagnósticos: lesões cerebrais, doença de Parkinson, autismo ou, imagine-se, sífilis.

“Primeiro disseram que [Hillary] fingiu a concussão”, acusou o marido da candidata e ex-presidente dos EUA, Bill Clinton, em declarações à CNN, numa referência a uma queda que a mulher deu em 2012. “Agora dizem que está a fazer audições para o ‘Walking Dead’” – uma série televisiva sobre mortos-vivos – ironizou, afastando as suspeitas republicanas.

Chris Cillizza, jornalista do “Washington Post”, que já tinha criticado a “teoria da conspiração republicana” – chegou a escrever que também padecia de um “grave problema de saúde”, porque pertencia ao grupo de 75% de norte-americanos que sofria de “tosse ocasional” –, admitiu que, face aos recentes eventos, o estado de saúde de Clinton o preocupava.

“Levar em conta a palavra da equipa de Clinton no que toca ao seu estado de saúde já não é suficiente”, começou por dizer num artigo publicado no domingo à noite, tendo em conta os eventos desse dia. “As pessoas razoáveis podem – e vão – colocar questões concretas sobre a sua saúde”, especulou Cillizza, antes de propor: “Poderá ser uma boa altura para Clinton partilhar o relatório completo do seu historial médico.”

Quem pensou no mesmo foi o seu adversário político. Ontem, em declarações à Fox News, Trump prometeu revelar os resultados do seu mais recente exame médico e concordou quando lhe perguntaram se o estado de saúde de Clinton era agora “um assunto”. “Algo se está a passar”, admitiu Trump.

Campanha na Califórnia cancelada A consequência mais prática do diagnóstico de Hillary Clinton foi o cancelamento da viagem à Califórnia, prevista para segunda e terça-feira, onde a candidata estaria presente numa angariação de fundos, entre outros eventos de campanha.

Segundo a imprensa norte-americana, ainda não é certo que Clinton regresse à estrada em Las Vegas, na quarta-feira, conforme estava planeado.