Portugal derrota Espanha apenas pela segunda vez

O clube de golfe da Quinta das Lágrimas voltou a ser o palco do sucesso nacional e pela primeira vez foi necessário decidir o título num play-off

Portugal derrotou a Espanha apenas pela segunda vez em sete edições do Match Ibérico de Pitch & Putt (P&P) e venceu pela segunda vez nos últimos três anos, o que mostra que está a equilibrar uma rivalidade amigável totalmente dominada pelos espanhóis entre 2007 e 2013.

Tal como há dois anos, quando a seleção nacional se impôs pela primeira vez, também agora o triunfo foi obtido no Clube de Golfe da Quinta das Lágrimas, em Coimbra, mostrando que o Old Course está a tornar-se num verdadeiro quebra-cabeças para Espanha, uma das maiores potências mundiais no golfe de P&P.

Em 2016 houve uma novidade, dado que, pela primeira vez, foi necessário recorrer a um play-off para decidir o título, depois das duas equipas terem chegado ao final das três sessões regulamentares empatadas a 6 pontos, acabando por triunfar Portugal por 7-6.

O capitão da equipa portuguesa, João Cerejo, apostou em João Maria Pontes, o campeão nacional de sub-16 que, nesta especialidade de P&P, foi bicampeão nacional em 2014 e 2015, não podendo tentar o tri este ano pois estava a competir no estrangeiro quando se disputou o Campeonato Nacional de P&P de 2016.

Foi uma dupla aposta de João Cerejo em João Maria Pontes, uma vez que o jovem do Club de Golf de Miramar recebeu um “wild card” do selecionador, dado não ter cumprido nenhum dos critérios estabelecidos para o apuramento direto para a equipa: ser campeão nacional, ser vice-campeão nacional ou estar classificado no top-3 do Ranking de P&P da Federação Portuguesa de Golfe (FPG).

João Cerejo já sabia quem iria chamar para a morte súbita: «Não tive muitas dúvidas. O João Maria Pontes, mesmo nos treinos e no jogo que tinha feito neste fim de semana, mostrou a qualidade que tem. Ele defrontou hoje o Andrés Pastor, um dos melhores de Espanha em P&P, e derrotou-o logo ali no buraco 12. Todos os nossos jogadores são excelentes, qualquer um poderia ter assumido a responsabilidade, mas achei que tem sido um ano fantástico para o João Maria, ele está muito confiante, isso nota-se e tem uma qualidade ímpar. A decisão foi minha, mas foi consensual na equipa».

O capitão espanhol, Jesús Barrera, designou para o play-off o jogador Sérgio Ruiz, um estreante nestes embates Portugal-Espanha, uma opção que poderá ter causado alguma surpresa à equipa portuguesa: «Eu já tinha jogado com o Sérgio Ruiz e achava que os shots ao green não eram o seu ponto forte, embora no último dia tenha jogado muito bem frente ao Arnaldo Paredes. Mas no play-off acusou claramente o momento. Com dezenas de pessoas à volta a ver, com tudo para decidir e falhou».

O capitão português explicou que «houve um sorteio e o espanhol saiu em primeiro lugar. Fez um shot direto ao bunker, ficou encostado à parede de trás e não conseguiu tirar a bola do bunker. Tentou 3 ou 4 pancadas e deu o match, até porque o João Maria Pontes tinha a bola no green».

Tal como na Ryder Cup, o ponto da vitória entra sempre para a história e no caso de João Maria Pontes foi ainda mais importante, pois garantiu 3 pontos num máximo de 4 possíveis. Hugo Espírito Santo, o português com melhor palmarés nacional e internacional na especialidade de P&P, somou 1,5 pontos, tal como o próprio João Cerejo.

Um dos casos mais interessantes desta vitória portuguesa foi a presença de João Filipe Monteiro nos singulares da última sessão, quando era apenas o suplente. Um episódio revelador do bom espírito de grupo reinante.

O selecionador nacional de P&P conta como tudo se passou: «O Mário Filipe teve uma honestidade de louvar. É um jogador com experiência e títulos nacionais e internacionais em P&P, mas sentiu que a ajuda que deu à seleção nos pares não foi a que estava à espera. Reconhecendo as qualidades do suplente, o João Filipe Monteiro, ele próprio disse que seria mais vantajoso para a seleção nacional ser substituído. E a verdade é que o João Filipe Monteiro jogou muito bem e acabou por somar o seu ponto nos singles».

Todos os pontos e meios pontos averbados acabaram por ser fundamentais, uma vez que Portugal partiu para o último dia com menos dois pontos do que a Espanha: «Ontem, nos pares (fourball) a jornada começou bem de manhã, com uma vitória e dois empates, mas à tarde os pares (foursomes) não nos correram nada bem e perdemos os três matches. Fomos para o último dia com uma desvantagem de dois pontos (2-4) mas nos singulares fizemos uma grande recuperação. Dos seis duelos, ganhámos quatro, o que precisávamos para empatar. Daí o play-off inédito».

Uma das novidades deste 7º Match Ibérico de P&P foi um envolvimento superior da FPG na organização conjunta com o Clube de Golfe da Quinta das Lágrimas, desde a calendarização da prova à constituição da seleção nacional.

«Foi uma seleção escalonada com critérios. Juntamente com o diretor-técnico nacional, João Coutinho, decidimos que seriam levados em conta o Ranking de P&P da FPG e o Campeonato Nacional de P&P. O campeão e o vice-campeão nacionais estavam dentro, bem como e os três primeiros classificados do ranking. Sobraram três “wild cards” e o suplente. Aí escolhemos o João Maria Pontes, por ter sido bicampeão nacional de P&P antes do Diogo Gambini, e depois, quer o Mário Filipe, quer o João Monteiro, quer eu próprio, já tínhamos muita experiência destes matches anteriores», elucidou João Cerejo.

A participação ativa da FPG foi deveras apreciada: «O João Coutinho colocou tudo o que necessitámos à nossa disposição e o Miguel Franco de Sousa (secretário-geral da FPG) foi inexcedível. Provocámos o Miguel Franco de Sousa para marcarmos em Coimbra este Match e ele acedeu, considerando que o campo mais antigo de P&P em Portugal reunia as condições para organizá-lo. Desde a primeira hora que ele esteve muito envolvido. Depois, durante este fim de semana, esteve sempre a apoiar os jogadores como espectador e no final dos matches tinha uma palavra de incentivo e alguns conselhos úteis. Ele tem uma grande experiência como capitão, tem uma carreira e uma inteligência de análises que nos foram muito úteis».

João Cerejo explica que foram dias triplamente desgastantes, porque atuou em três frentes distintas, «como jogador, capitão e presidente do clube anfitrião». Nesse papel de organizador, fez questão de deixar mais dois agradecimentos especiais: «O Amadeu Ferreira foi o nosso árbitro, sempre presente e sempre excelente, e tivemos ainda a sorte de pode contar na cerimónia de entrega de prémios com o Vereador de Desporto da Câmara Municipal de Coimbra, Carlos Cidade».

Merece ainda destaque o facto de haver cinco jogadores que estiveram nas duas vitórias de Portugal sobre Espanha. Os repetentes (2014 e 2016) foram Hugo Espírito Santo, João Cerejo, Arnaldo Paredes, Mário Filipe e João Filipe Monteiro.

Os resultados completos foram os seguintes:

1ª Jornada/Fourballs: Portugal – Espanha, 2-1

João Cerejo / Diogo Gambini (Portugal) – Sérgio Ruiz / Javier Marroquin (Espanha), A/S (empate).

Arnaldo Paredes / João M. Pontes (Portugal) – Tino Martin / Thomy Artigas (Espanha), 2/1.

Mário Filipe / Hugo E. Santo (Portugal) – Andres Pastor / Pablo Rodriguez (Espanha), A/S.

 

1ª Jornada/Foursomes: Espanha – Portugal, 3-0

Andres Pastor / Pablo Rodriguez (Espanha) – João Cerejo / Diogo Gambini (Portugal), 3/1.

Tino Martin / Thomy Artigas (Espanha) – Hugo E. Santo / Mário Filipe (Portugal), 2/1.

Sergio Ruiz / Javier Marroquín (Espanha) – Arnaldo Paredes / João M. Pontes (Portugal), 1 up.

 

2ª Jornada/Singles: Portugal-Espanha, 4-2

João Maria Pontes (Portugal) – Andres Pastor, 8/6.

Hugo Espírito Santo (Portugal) – Pablo Rodriguez (Espanha), 5/4.

Sergio Ruiz (Espanha) – Arnaldo Paredes (Portugal)-, 5/4.

João Cerejo (Portugal) – Thomas Artigas (Espanha), 4/3.

João Filipe Monteiro (Portugal)- Javier Marroquin (Espanha), 4/3.

Tino Martin (Espanha)-Diogo Gambini (Portugal), 3/2.

 

Playoff: Portugal-Espanha, 1/0

 

João Maria Pontes (Portugal) – Sergio Ruiz (Espanha), 1/0

 

Resultado final: Portugal-Espanha, 7-6