Depois de ter conquistado em Sintra, pela quarta vez, o título de campeã do mundo, a brasileira Isabela Sousa aproveita todos os momentos para se divertir dentro de água. Falámos com a atleta durante o Bodyboard Girls Experience, um evento que decorreu na ilha da Madeira até domingo, dias antes de regressar ao continente para participar na última etapa do campeonato mundial, que se realiza na Nazaré, entre os dias 2 e 11 de outubro.
Conseguiste alcançar o título de campeã do mundo antes de chegares à última etapa. Como é que isso foi possível?
Houve três provas até agora: uma no Rio de Janeiro, outra em Arica, no Chile, outra em Sintra. E agora a última vai ser na Nazaré. Eu ganhei no Rio e em Arica e, com as provas que fiz, tornei-me campeã por antecipação em Sintra.
E qual foi a sensação de ser campeã mundial pela quarta vez?
Cada título tem um significado diferente, existiam obstáculos distintos e novas coisas para conhecer em mim mesma. Acho que a maior adversidade de um atleta é ele mesmo e em cada competição tive uma nova descoberta, conseguindo assim superar-me. Ganhar agora teve uma sensação diferente. Estive dois anos a bater na trave, sem conseguir conquistar o título, e este ano estava a estudar comunicação na faculdade quando me apercebi que queria mais – no ano anterior tinha sido vice-campeã e agora tinha vontade de ganhar. Fiquei com vontade de voltar a competir. Até aí estava um bocado dividida, mas este ano decidi rever as prioridades.
E a mais importante era reconquistar o título…
Não era tanto o título, mas sim a de dar o meu melhor. Um dos meus melhores anos foi quando fui vice-campeã, pois senti que tinha dado tudo de mim. Este ano decidi fazer essa aposta e esta decisão teve um grande significado para mim no que diz respeito ao amadurecimento e à relação com a competição e com a adversária. Esta tem uma grande importância na nossa vida – se ela não existisse, não existiam campeonatos, nem esta oportunidade de aprender mais.
E o que soube melhor: a conquista do primeiro ou do quarto título?
São vitórias completamente diferentes. Quando conquistei a primeira vitória tinha 20 anos, agora tenho 26 e aconteceram muitas coisas diferentes. Olho para trás e vejo muitas diferenças. O primeiro título que ganhei era tudo o que eu queria e quando o conquistei fiquei…. Sem saber o que fazer. Agora já não existe essa sensação. São experiências diferentes mas muito boas.
Qual é a tua relação com Sintra? Já estiveste muitas vezes nesta vila?
Foi a décima vez que competi em Sintra. Adoro. Já vim a Portugal umas 16 ou 17 vezes e conheci pessoas em Sintra que se tornaram família. Alguns deles vão agora passar o ano a minha casa. Eu tenho um carinho muito grande por Portugal, é um sítio onde gostava de morar. Queria fazer Erasmus aqui este ano, mas como congelei a matrícula na faculdade este semestre, por isso acho que não vai ser possível. Queria ficar aqui uns seis meses a estudar e surfar. E Sintra foi onde tudo começou.
E a Madeira?
Esta é a segunda vez que estou na Madeira. Vim através do BodyBoard Girls Experience e foi uma experiência muito boa. É completamente diferente a forma como estamos neste evento quando comparada com a nossa postura num mundial. Acho que a Madeira tornou-se mais especial ainda por a ter conhecido através deste evento – visitar um lugar novo, lindo como este, com pessoas que conheço e que gostam de fazer o mesmo que eu é diferente de vir sozinha. Foi magnífico e, por isso, decidi participar pela segunda vez nesta iniciativa.
O BodyBoard Girls Experience é um evento dedicado às atletas femininas. Achas que, neste desporto, as mulheres são tratadas da mesma forma que os homens?
Não conheço um desporto em que a mulher esteja em pé de igualdade com o homem. Em alguns países, o bodyboard é considerado uma modalidade masculina por ser um desporto de atrito – levamos com ondas pesadas, as manobras em si são difíceis e é um desporto que pode deixar o corpo bastante magoado. Mas no Brasil é visto como um desporto feminino, as primeiras campeãs mundiais foram brasileiras e ainda hoje existe essa hegemonia do bodyboard brasileiro. No Brasil, de certa em forma, as mulheres são tratadas como os homens. Mas no circuito mundial e noutros países vejo que há uma disparidade bastante acentuada.
Em que sentido?
Na própria atribuição de prémios, na atenção que é dada por parte das entidades. Mas acho que, pouco a pouco, isto está a melhorar. Não só no bodyboard, como noutras áreas da sociedade. Acho que estamos a conseguir conquistar o nosso lugar.
A brasileira Neymara Carvalho [que esteves também no BodyBoard Girls Experience] é a única pentacampeã do mundo. O objetivo é alcançá-la ou superá-la?
Não penso nisso. Para mim, o que interessa é ter uma relação fantástica com ela, tê-la como mestre. A Neymara será sempre a minha rainha e a rainha do bodyboard, isso não vai mudar nunca. E não penso em ultrapassá-la porque também não dou tanta importância quanto isso à quantidade de títulos. É muito difícil mantermo-nos a um certo nível e isso tem um certo valor, mas cada atleta alcance a vitória a seu tempo. Eu agora estou a ter o meu tempo, daqui a uns anos outra mulher terá o seu tempo. Mesmo que ultrapasse a Neymara em número de títulos, ela nunca deixará de ser a rainha do bodyboard.
Campeoníssima, a brasileira Isabela Sousa esteve em Portugal e exibiu todas as suas qualidades de surfista. Sorte para o público português que teve a oportunidade de ver ao vivo uma atleta de excepção que, ainda por cima, sente uma verdadeira paixão pelo nosso país. Quatro títulos de campeã do mundo falam por si e Isabela Sousa ainda está muito a tempo de aumentar esse pecúlio.