Mortágua – o que tu queres, sei eu

O golpe de Mortágua consistia em tornar-se bem conhecidae ser a candidatado BE à CML

Mariana Mortágua protagonizou um golpe publicitário. Anda meio mundo a queixar-se que não entende por que é que foi uma deputada do Bloco de Esquerda a anunciar mais um imposto sobre as casas, com o argumento de que a medida deveria ter sido anunciada pelo ministro das Finanças e no contexto global da discussão do Orçamento. 
Até Assunção Cristas, líder do CDS-PP, foi rápida a declarar a estranheza. Ora, a presidente do CDS deveria ser a primeira a perceber. Não era preciso ser o bruxo de Fafe para adivinhar que Assunção Cristas ia ser candidata a Lisboa. Bastava olhar para o vestido de kiwis, ou para as fotos em biquíni na praia, publicadas na imprensa, para saber que Cristas seria candidata à Câmara Municipal de Lisboa. 

Marcelo Rebelo de Sousa foi o primeiro a inventar estes golpes publicitários quando foi candidato a Lisboa. Como a necessidade aguça o engenho, fez de motorista de táxi, deu mergulhos no Tejo. Não tem mal nenhum, são manobras publicitárias óbvias, contudo necessárias, para quem tem défice de notoriedade.

Mariana Mortágua irrompeu-nos pelas televisões a anunciar mais um imposto sobre as casas, travestido de perseguição aos ricos, ao património, à acumulação, naquela linguagem revolucionária tão própria dos bloquistas. Causou um terramoto político-mediático, claro. E quando pensávamos que o pior já tinha passado, chega o tsunami: declara que é preciso perder a vergonha, passando à ação direta: confisco, assalto, ocupações, nacionalizações. 

O país fica estupefacto. Aqueles que votam PSD, CDS e até PS (oitenta por cento do país que vota), ficaram perplexos e alarmados com o óbvio decalque dos tempos malditos do PREC. 

Aliás, no verão quente de 1975 ou no verão quente de 2016, Mariana Mortágua seria corrida a pontapé do Mondego para cima, ou em qualquer terra onde haja emigrantes. Pois em todas as aldeias, vilas e cidades de Portugal de onde se emigra, só se pensa em trabalhar para acumular, para fazer casa e dar um futuro aos filhos. Foi na cara dos emigrantes portugueses que a Mariana deu a maior chapada. 

Mas temos de ser francos: os viúvos e descendentes do PREC rejubilaram. A imprensa lisboeta deu-lhe palco e tempo. Mariana Mortágua é agora a heroína e aglutinadora dos descontentes urbanos. 

O golpe de Mariana Mortágua consistia em tornar-se bem conhecida e ser a candidata do Bloco de Esquerda à Câmara de Lisboa. 

Fernando Medina, o presidente interino, e Helena Roseta, presidente da Assembleia Municipal de Lisboa, coligada no executivo camarário e também deputada na Assembleia da República, foram os primeiros a perceber. Foi por isso que se demarcaram do novo imposto com estrondo, fazendo declarações bem fortes contra a atuação da deputada bloquista. 

Não haverá coligação das esquerdas em Lisboa. Onde os outros viram erros ou desnorte, eu vejo o contrário: vejo um propósito, uma ideia, um plano, executado com muito sucesso, por sinal.

Tomar Lisboa de assalto, rebentar com a geringonça, se preciso for.