Enquanto Governo e oposição trocam acusações e justificações sempre que um indicador económico é divulgado, algumas estatísticas teimam em não inverter a tendência negativa. É o caso do investimento, que já conheceu dias bem melhores. Segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE), no 1º trimestre de 2016 a queda do investimento foi de 1,2%, mas no segundo a contração passou para os 3,2%. E este valor já não era visto há algum tempo – foi a pior marca desde o 2º trimestre de 2013, altura em que o país vivia sob um programa de ajustamento que resultou na tão falada onda de austeridade. «No 2º trimestre de 2016, o investimento em volume registou uma redução de 3%, que compara com a variação homóloga de -1,2% registada no trimestre precedente», explicou o INE. E este tem sido apontado com uma das principais explicações para o fraco crescimento económico apresentado.
Ainda esta semana, o mesmo instituto publicou os dados das importações e exportações de 2015. Aí, a exportação de bens registou um aumento nominal de 3,7%, em comparação com 2014, e as importações aumentaram 2,2%. No entanto, e olhando para os números já divulgados referentes a 2016, a tendência não parece ser a mesma do que a registada no ano passado. No trimestre de 2016 terminado em maio, as exportações caíram 2,3% e as importações diminuíram 3,6%, face ao período homólogo. Já em relação ao 2º trimestre de 2016, os valores das exportações voltaram a registar uma quebra de 2,3% e as importações tiveram uma quebra ligeiramente maior (3,9%), em comparação com o mesmo período do ano passado.
Menos máquinas a chegar
Ora, a redução do investimento pode explicar não só o crescimento económico anémico mas também a diminuição dos valores do comércio com o exterior. Esmiuçando as estatísticas, na altura em que os dados do investimento foram revelados pelo INE, soube-se igualmente que o setor da construção foi particularmente afetado: o Valor Acrescentado Bruto deste ramo «apresentou uma diminuição, em termos homólogos, mais intensa que no trimestre anterior, passando de uma taxa de -2,8% para -3,7% no 2º trimestre», esclareceu o instituto. Esta queda de 3,7% foi a pior desde o início de 2014. Mas existe uma variável que pode ser acrescentada a tudo isto: a evolução das importações.
De acordo com a classificação por grandes categorias económicas efetuada pelo INE, depois dos combustíveis e lubrificantes, a categoria que sofreu a maior quebra em termos de importações foi exatamente «máquinas e outros bens de serviço». Não deverá ser por acaso que a maquinaria importada sofreu uma redução de 1,5% no primeiro trimestre de 2016 e de 2,5% no segundo trimestre, face ao período homólogo. Ou seja, no primeiro semestre de 2016 as importações de maquinaria ascenderam aos 2667 milhões de euros, quando em igual período do ano passado o montante investido era já de 2759 milhões de euros – uma redução de 3,3% comparando os dois períodos. Até ao final de 2015, o valor atingido nesta categoria foi de 5510 milhões de euros.
Para, pelo menos, igualar o resultado das importações de máquinas do ano passado, esta tendência teria que se acrescentar, nos dois trimestres que faltam, 2843 milhões de euros em maquinaria. A questão agora é a de saber se as empresas e investidores estão dispostos a rever as suas estratégias de produção.
Portugal tem sido também particularmente afetado, relativamente ao comércio entre países, pela crise dos mercados internacional e no seio da União Europeia, isto apesar de os países europeus constituírem ainda o grosso do destino dado às vendas internacionais.
Angola deixou de ser o maior parceiro fora da UE. As importações angolanas sofreram uma violenta quebra, com uma redução de 41,5% registada no trimestre terminado em julho passado. Já as importações da China reduziram 28,6%.