Ainda de ressaca pelo fim de semana caótico que terminou com a demissão de Pedro Sánchez de secretário-geral do PSOE, os socialistas espanhóis assistiram ontem às primeiras indicações de que o seu partido pode em breve permitir a investidura de um governo minoritário de Mariano Rajoy e evitar as terceiras eleições em menos de um ano. “Uma abstenção não é o mesmo que um apoio”, disse ontem Javier Fernández, que lidera a comissão gestora dos socialistas, o órgão temporário que se reuniu pela primeira vez desde a saída de Sánchez.
Fernández deixou ontem bem sublinhado que a decisão de permitir que Mariano Rajoy forme governo antes do fim do mês não lhe cabe a ele, mas sim a um comité federal de socialistas que se reunirá nas próximas semanas – cancelou-se o encontro de sábado. Em todo o caso, não é segredo que os críticos e barões que forçaram a saída de Sánchez preferem não arriscar apresentarem-se divididos a umas terceiras eleições, depois de quase ultrapassados pela aliança entre Podemos e Izquierda Unida em junho. Aliás, como disse ontem Albert Rivera, o líder do Ciudadanos, “o PSOE não orquestrou tudo isto para continuar a dizer o mesmo que Sánchez”.
Fernández repetiu a mesma ideia ontem. “Não sei se a alternativa é abstermo-nos ou irmos a outras eleições”, disse aos jornalistas na sede de Madrid, reconhecendo, todavia, que, na sua opinião, “a pior solução para o PSOE e para o país é ir a eleições.” O líder da comissão gestora defendeu que a questão deve ser apresentada num referendo aos militantes socialistas, mas atirou novamente a decisão para o comité federal, o mesmo que no sábado forçou a demissão de Sánchez – pelas cenas de insultos e berros que passaram para fora, Fernández pediu desculpas.
O líder da comissão gestora socialista disse ontem que estava aberto a reunir-se com Mariano Rajoy caso este lhe telefonasse para marcar um encontro. De acordo com o “El País”, isso aconteceu logo ao início da tarde. Os dois tentaram acertar um caminho para futuras negociações entre os partidos, mas as fontes do Partido Popular que falaram ao diário espanhol dizem não esperar um encontro antes de o clima de fratura entre socialistas desanuviar e se realizar um novo comité federal – “há que esperar e ver o que quer o PSOE”, disse ontem Rajoy.
Fernández e os barões socialistas que o apoiam querem olhar primeiro para dentro do partido antes de negociar com o PP – hoje há reunião do grupo parlamentar socialista. Uma reorientação forçada para a abstenção pode fraturar irremediavelmente as bases. E do outro lado está o Podemos, ameaçando romper as alianças regionais em Aragão, Valência e Baleares.