“Este sítio é engraçado, não é?”, atira para o ar António Mexia, CEO da EDP, no topo do telhado do edifício do MAAT – Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia, que abre portas ao público no dia 5 de outubro (ver caixa). “Agora vamos passar a ouvir as pessoas dizerem que vão ao telhado do museu”, acrescenta, de olhos postos no rio, com a ponte e o Cristo Rei a servirem de fundo.
Ali existia um muro que chegava aos 14 metros de altura e que, sem saber, tinha em si todo o simbolismo dos muros. Era um muro que delimitava um museu que assim se fechava para a cidade em vez de se abrir. Era um muro que fazia virar costas ao rio que estava apenas a passos de distância. Era um muro que simbolizava a distância inexistente fisicamente mas presente na prática diária entre o centro de Lisboa e esta zona de Belém. Era um muro que, como todos os muros, não deveria existir. E foi isto que António Mexia pediu à arquiteta Amanda Levete quando, em 2010, entrou no seu ateliê. A inglesa devolveu-lhe o MAAT. “A primeira vez que aqui vim existia o tal muro, mas ainda assim o que me surpreendeu foi a vista e a ideia de que esta zona, sendo parte da cidade, parecia estar afastada. Quis logo criar um espaço que reconciliasse esta linha com o centro de Lisboa, mas também com o rio. E, para tal, era fundamental que o espaço público tivesse uma forte presença. Mas também achei fundamental que o novo edifício não desafiasse o antigo, da Central Tejo [antigo Museu da Eletricidade]”, explica Amanda Levete.
O resultado são 38 mil m2 dos quais apenas 4 mil são de área expositiva. Os restantes pertencem à cidade. Sem muros, sem horários, sempre disponíveis para aqueles que ali quiserem passar. Voltado para o rio Tejo, que lhe serve de entrada principal, o MAAT faz-se de forma contra intuitiva. O acesso é feito de frente para o rio e, no interior, desce-se em vez de se subir. E apesar da imponência do edifício, nenhum ponto ultrapassa os 12 metros de altura. Já no interior, chega-se a estar abaixo da linha de água. As paredes fazem-se de ondas, contra o convencionalismo museológico das linhas retas. O MAAT, cuja obra custou cerca de 20 milhões de euros, quer-se uma enorme tela em branco, disponível para as interpretações dos artistas que por ali vão passar.
É o caso de Dominique Gonzalez-Foerster. A francesa inaugura a Galeria Oval, o primeiro (e um dos maiores) espaços do MAAT. A instalação site specific “Pynchon Park” foi a primeira encomenda do MAAT, constituindo a primeira parte do ciclo Utopia/ Dystopia. Com cerca de mil metros quadrados, aqui os visitantes tornam-se atores da obra de arte que, como explicou o diretor do MAAT, Pedro Gadanho, “pode ser vista como um todo, de cima, mas também ativada pelos intervenientes que ficam presos dentro do espaço, naquilo que é um convite a uma reflexão crítica sobre a forma como as pessoas se reúnem, mas também como se observam.”
Esta é uma das três exposições que marcam a inauguração do MAAT. Mas é a única que se encontra no novo edifício. “A Forma da Forma” integra a 4.ª edição da Trienal de Arquitetura de Lisboa e ocupa a Praça entre a Central Tejo e o novo edifício. Com curadoria de Diogo Seixas Lopes, esta mostra pretende “explorar a natureza da forma arquitetónica”. Já no interior da Central Tejo – e reforçando a ideia destes dois edifícios como parte integrante de um só projeto museológico – encontra-se “The World of Charles and Ray_Eames”, uma parceria com o Barbican Centre, de Londres, que resulta de um trabalho de investigação de mais de três anos. Esta é uma viagem ao universo criativo do casal de designers, que, em 1950, definiram como objetivo “oferecer o melhor ao máximo número de pessoas pelo mínimo.”
Ainda na Central Tejo continuam patentes as mostras temporárias “Segunda Natureza”, “Edgar Martins – Silóquios e Solilóquios sobre a Morte, a Vida e Outros Interlúdios” e “Artists’ Film International”, e a permanente “Circuito Central Elétrica”.
Justamente pelo peso das exposições no edifício da Central Tejo, esta inauguração do MAAT pode ser vista como uma espécie de falsa inauguração. Aliás, como uma exposição que tem, como primeiro objeto, o espaço em si, em vez de uma panóplia de exposições. “Queríamos que os visitantes também tivessem a oportunidade de conhecer o espaço antes que ele passe a estar repleto de obras de arte”, explicou Pedro Gadanho. “Além disto, queríamos abrir ainda numa altura que permitisse às pessoas usufruírem do espaço exterior, que para nós é tão importante. Se estivéssemos à espera que tudo estivesse concluído, íamos ter o edifício aqui parado sem que as pessoas pudessem começar a usufruir dele”, acrescentou António Mexia. O CEO da EDP sublinhou ainda que, do projeto faz ainda parte uma ponte, também desenhada por Amanda Levete, e que passará por cima da Avenida da Índia e da linha de comboio.
Nesta fase inicial, em que o museu não está ainda a funcionar na totalidade, o bilhete será, por isso, de 5 euros (e pago apenas a partir dos 18 anos), e será possível adquirir um cartão de membro do MAAT que permite a duas pessoas terem acesso ilimitado, até ao final do ano, por 20 euros. Uma “oferta competitiva”, explica Mexia, que visa ajudar a ultrapassar os 250 mil visitantes que o Museu da Eletricidade costuma receber por ano. Mas esta é sobretudo uma forma de ajudar o MAAT a afirmar-se na cidade de Lisboa. É, afinal, essa a sua maior exposição.