Esta afirmação imperativa e a imagem de um despertador, que a acompanha, constituem, ambos, palavras de ordem. Enquanto a imagem indica que «é hora» ou «é hora de acordar», a afirmação ordena a quem passa: «Acorda Portugal».
Ao ler este conjunto de palavras, senti-me algo intimidada por se tratar de uma ordem tão direta e objetiva, sem ponto de fuga ou escapatória que me valesse… E a ordem nem sequer se dirigia a mim diretamente, mas a mim e a todos os portugueses, tratados de forma maior, não como indivíduos mas como País, o que representa uma responsabilidade acrescida.
Pedir a um país que acorde e saia do conforto da sua neutralidade é, afinal, abalar as estruturas que o fundam, é abanar a sua passividade ancestral, apelando à sua participação cívica, a que abra os olhos, como uma outra fotografia, já publicada, afirmava, lembrando o apelo de Sebastião da Gama: «em nome dos direitos / que te deram a terra, o Sol, o Mar, / (…) / Alevanta-te, Povo!»
Na realidade, as palavras escritas na rua, mais que as palavras escritas nos livros, ganham visibilidade tal que é impossível ficarmos indiferentes. Como afirmou Afonso Cruz, a rua é o local privilegiado de ação coletiva e é na rua que importa mostrar que vale a pena lutar por aquilo em que acreditamos «porque simplesmente saímos à rua e gritamos que não pode ser de determinada maneira, que temos uma nova verdade a ser exibida (…). E que vale a pena lutar por isso.»
Por pesquisa na Internet, descobri que há um movimento, de 2012, com o nome «Acorda Portugal» e até uma canção que afirma que «é assim que o povo resiste / É lutando que a vida insiste». Não por acaso, no Youtube, segue-se-lhe uma outra música de resistência, da autoria de José Mário Branco, intitulado «Eu vi este povo a lutar».
E se este povo já lutou, mas agora já quase não nos mobilizamos, não é por falta de estímulo ou de apelo, não é por não nos chamarem a atenção para a necessidade de, individualmente, nos insurgirmos e, colectivamente, mostrarmos a nossa vontade. Como afirma Maria do Rosário Pedreira, em entrevista recente: «Um contentinho é uma ameaça, um povo de contentinhos um perigo real»!
E se nada muda, não é, pois, por não haver vontade coletiva mas, antes, por faltar vontade individual, a vontade indispensável para que cada um se disponha a acordar e, sobretudo, a atuar. É esta inércia individual, este adormecimento de cada um dos elementos que compõem o coletivo «Portugal» que mina a vontade coletiva e impede que algo seja feito, levando-nos a aceitar sermos tratados como números, como mercadoria, quando, na realidade, não o somos.