Big Mac Medina

A esquerda chora. A esquerda ama o verde, a relva, as árvores, os pássaros, a cultura e os edifícios históricos ou culturais. Mas nem sempre.  Ao longo de muitos anos habituei-me a ouvir, na Câmara de Lisboa e na Assembleia Municipal, a receita da esquerda: que fosse tudo público. Escolas, hospitais, estradas, jardins, habitação social,…

A esquerda chora. A esquerda ama o verde, a relva, as árvores, os pássaros, a cultura e os edifícios históricos ou culturais. Mas nem sempre. 

Ao longo de muitos anos habituei-me a ouvir, na Câmara de Lisboa e na Assembleia Municipal, a receita da esquerda: que fosse tudo público. Escolas, hospitais, estradas, jardins, habitação social, museus, edifícios, palácios, cultura. A receita era sempre a mesma. Tudo do Estado. Na Assembleia da República, na Câmara, na Assembleia Municipal, a esquerda levantava-se e fazia sempre o mesmo discurso. Sabíamos como começava, por onde passava (pela Constituição) e como terminava.

Durante todo o consulado de António Costa à frente da CML (de 2007 a 2015) ouvi-o vezes sem conta admoestar o PCP e BE por causa disso. Costa explicava sem paciência que não havia uma chuva de milhões para ser tudo público.

Por essa altura, os jardins em Lisboa definhavam. Um dos piores casos era o Jardim do Campo Grande. Não era um jardim, era um matagal, com as piscinas abandonadas e o edifício Caleidoscópio a cair aos bocados. 

Em 2011, António Costa faz um Protocolo com a Universidade de Lisboa onde lhes cede o mítico edifício municipal por 50 anos. O Protocolo dizia que o edifício seria um centro de estudos e um refeitório – com conclusão prevista para finais de 2012.

As obras começaram finalmente em julho de 2015, com Fernando Medina a presidente, e eis senão quando vejo um novo tipo de refeitório universitário a nascer, sem refeições mediterrânicas, sem sopas, nem grelhados, legumes ou frutas. Ao invés dessa dieta antiquada, vejo um restaurante de fast food a erguer-se: um McDonald´s. A mim, caiu-me o queixo. 

Tenho ido ao jardim. Continua um matagal, sem rega, sem relva, pouco frequentado. É mais um pelado, exceto na zona do Caleidoscópio. E qual a razão deste milagre?

António Cruz Serra, o reitor da Universidade, explica comovido: «Arranjaram uma forma muito interessante para realizar as obras. Com um orçamento superior a dois milhões de euros, a empreitada de reabilitação foi assumida pela Sistema McDonald´s Portugal, como contrapartida por uma concessão de longo prazo de parte do edifício». Acrescenta ainda o magnífico reitor: «Devemos estar todos muito contentes com esta obra, do ponto de vista estético e de conforto de utilização, defendendo que, se os estudantes querem estudar, o mínimo que se pode fazer é dar-lhes condições».

Aliás, para lhes dar ‘todas as condições’, o reitor até lhes deu um McDrive, para que os estudantes não roubem tempo às preciosas horas de estudo.

Moral da história: a Câmara dá o Caleidoscópio à universidade que o dá à McDonald´s. Só por isso, já mereciam a honra do nome num novo hambúrguer: ‘Big Mac Medina’.

Aliás, já que estão com a mão na massa – e aproveitando o facto de a esquerda estar por tudo e não chorar -, podiam fazer qualquer coisa semelhante em Monsanto, com o edifício Panorâmico. Talvez no ramo das pizzas. Com uma inovação: a ‘Pizza reitor’. 

sofiarocha@sol.pt