O email é de agosto de 2014 e faz parte de um conjunto de milhares de mensagens eletrónicas, divulgadas pela WikiLeaks, nos últimos dias. Foi enviado numa altura em que Hillary Clinton ainda não tinha anunciado a sua candidatura ao cargo de presidente dos EUA e o seu destinatário era John Podesta, à data conselheiro de Barack Obama e agora diretor de campanha da candidata pelo Partido Democrata.
“Temos de utilizar os nossos recursos diplomáticos e mais tradicionais, dos serviços de informação, para pressionar os governos do Qatar e da Arábia Saudita, que estão a fornecer apoio financeiro e logístico clandestino ao Estado Islâmico e a outros grupos radicais sunitas na região”, pode ler-se no email, alegadamente redigido e enviado por Hillary. No corpo do texto pode ainda ler-se que as acusações são baseadas em fontes próximas dos “serviços secretos ocidentais” e “norte-americanos” na região.
A mais recente fuga de informação, da autoria da WikiLeaks – intitulada de “Os Emails de Podesta” – contempla a divulgação de cerca de 2000 mensagens, vazadas da conta de Gmail do antigo conselheiro da Casa Branca, que também já serviu com chefe de Gabinete do ex-presidente, Bill Clinton.
A denúncia de Hillary volta a colocar a nu as vulnerabilidades das relações diplomáticas entre os EUA e, particularmente, a Arábia Saudita. Recorde-se que no final do mês de setembro o Congresso norte-americano ultrapassou, de forma inédita, um veto de Obama, e aprovou uma lei que permite que os tribunais federais do país possam aceitar queixas de particulares contra Estados suspeitos de financiamento de terrorismo. Vários congressistas e senadores confessaram que a ultrapassagem do veto se deveu, em grande medida, à suspeita generalizada – nunca provada – nos EUA, de que os sauditas patrocinaram os ataques do 11 de setembro de 2011.
O governo saudita negou, no entanto, as acusações encontradas no email de Clinton. A resposta foi dada através de uma empresa de comunicação, com sede nos EUA, frequentemente porta-voz do lobby da Arábia Saudita e refere que o país está na “primeira linha da luta contra o terrorismo na região” e que o “Daesh é um inimigo declarado” do reino.
Já a equipa de campanha dos Democratas não confirma a autenticidade do conteúdo dos emails e muito menos os seus autores e destinatários. Ainda assim, acusa a Rússia de estar por trás da divulgação dos mesmos. “[Os emails] são documentos pirateados e roubados pelo governo russo, que armaram a WikiLeaks, para ajudar a eleger Donald Trump”, disse um porta-voz da campanha de Hillary, ao site Yahoo News, antes de se negar a confirmar a veracidade das mensagens.