Os Gallagher estão de volta para continuar a fugir à felicidade

A sétima (e última?) temporada de “Shameless” arranca hoje, às 23h10, no canal Fox Life

Uma família que se junta para atirar o pai de uma ponte que passa sobre o rio Chicago diz muito sobre a sanidade mental do agregado familiar. Por outro lado quem, no final da última temporada de “Shameless”, não bateu palmas à reunião dos Gallagher contra o egoísta e vil Frank Gallagher, deve estar com as prioridades trocadas e não terá o coração do lado certo.

A sétima temporada da série que em Portugal recebe o nome de “No Limite” arranca hoje à noite no canal Fox Life, poucos dias depois de ter-se estreado nos EUA. William H. Macy continua a ser a brilhante figura de proa neste enredo, por muito desagradável e asquerosa que seja a personagem que encarnou há cinco anos. Frank Gallagher é um pai que devia ser o exemplo e o farol para uma família que cresceu sem mãe – saiu um dia para comprar pão e deixou seis filhos entregues ao deus-dará. Mas o alcoólico Frank não é nem nunca foi um exemplo para ninguém, a não ser pelo lado negativo: Fiona, Lip, Ian, Debbie, Carl e o pequeno Liam encontram naquela cara enrugada e cicatrizada, nas olheiras e naquele cabelo sujo, um espelho daquilo que podem vir a ser se não forem à procura de algo melhor do que aquilo que os subúrbios de Chicago têm para lhes oferecer.

Apesar de tudo, “Shameless” não é uma série pesada. Está dentro daquela categoria a que as televisões se habituaram a chamar de comedy-drama e que em português se costuma aglutinar como dramédia. A adaptação norte-americana foi feita a partir de uma série britânica com o mesmo nome e que foi exibida no Channel 4, em Inglaterra, entre 2004 e 2013, num total de 13 temporadas. John Wells, o produtor americano, decidiu adaptar a história inglesa ainda antes da estreia britânica, como contou ao “New York Times”, transportando as personagens da zona industrial de Manchester para a classe operária de Chicago.

Uma irmã-mãe e cinco irmãos
A culpa de termos uma família tão disforme não é só dos pais Frank e Monica. Os Gallaghers são também produto do sítio onde vivem, de um bairro suburbano com baixa escolaridade, muito desemprego e imigração ilegal. Fiona, a irmã mais velha, assumiu a responsabilidade de cuidar de dois adolescentes e três crianças: Liam, um verdadeiro génio que prefere trilhar o caminho das dependências; Ian, um rapaz sensível que se debate com a homossexualidade; Carl, uma criança a tornar-se num pequeno bandido; Debbie, que na passagem para a adolescência torna-se mãe solteira; e Liam, o mais novo, que cresce no meio de todos estes problemas. Fiona, nunca esquecer, é também ela uma jovem adulta e, por isso, a debater-se com os outros típicos dramas de uma mulher, neste caso muito marcados por relações falhadas.

A ajudar à festa, temos, nesta sétima temporada, um dos pilares familiares inspiradores de Fiona e da sua família – os vizinhos Kevin e Verónica – a estragar o conceito daquilo que deveria ser um agregado familiar: na última temporada abriram a apaixonada relação de marido e mulher a uma terceira pessoa, a empregada russa do bar de Kev, Svetlana. As contas ficam mais fáceis de pagar, a diversão no leito também aumenta, mas nada disto é… normal.

“No Limite”: é assim que se vive nesta série. Quando se pensa que já não é possível acontecer nada de pior, mais reles, ou mais baixo, o pai Frank interrompe o casamento da filha Fiona, por inveja, para denunciar a toxicodependência do noivo. Foi esta a gota de água que acabou com os Gallagher a atirar o alegado chefe de família da ponte. E é com o delírio comatoso de Frank que arranca a sétima temporada de “Shameless” – e com rumores de ser a última, com as prováveis saídas de Emmy Rossum (Fiona) e Cameron Monaghan (Ian). “The Fugitive Kind”, música de 2013 dos The Trigger Code, dá o mote à primeira cena, com Frank a nadar debaixo de água, e que condiz na perfeição com aquilo que são as personagens: do tipo fugitivo. Sempre a tentar escapar a algo: à pobreza, à miséria, às dependências, às responsabilidades, mas também a tudo o que de bom poderiam ter nas suas vidas, mesmo que achem não terem direito à felicidade.