O que faz, isso sim, é retirar o filtro e permitir que venha ao de cima o mais obscuro dos pensamentos. E também acredito que não há indignação nenhuma que torne aceitável determinado tipo de declarações. É certo que, dias mais tarde, o mesmo Jorge Máximo veio pedir desculpa e esclarecer que aquilo que queria dizer era precisamente o contrário. Ou seja, que “as leis são como as meninas virgens, não devem ser violadas”.
Acredite-se ou não nas desculpas, a primeira frase, essa, já não se podia apagar. E faz-me pensar se o que está por detrás de declarações deste género não é, na verdade, uma forma de estar e de pensar que infelizmente continua a prevalecer. Formas de estar e de pensar que, nos últimos anos, ganharam tempo de antena e palco através das redes sociais e da abertura dos meios de comunicação aos fóruns populares.
Agora, qualquer cobarde e/ou inconsciente parece sentir-se autorizado a dizer a anormalidade que lhe ocorrer, no momento em que ela lhe ocorre. Sem filtro. E isto permitiu-nos ter um retrato assustadoramente real da nossa sociedade. Não, as pessoas não têm momentos de loucura passageira quando dizem barbaridades como a que Jorge Máximo disse.
Ou outras, como as que ouvi e li há cerca de um ano, quando fui apelidada de “prostituta ressabiada” por ironizar acerca do uso de babygrows por mulheres adultas, ou, mais recentemente, quando fui acusada de trabalhar no Elefante Branco na sequência de um texto sobre Ronaldo e a seleção nacional de futebol. Isto não são momentos de loucura. São, isso sim, momentos reveladores, em que percebemos o que muita gente ainda pensa. Curiosamente, estes pensamentos parecem só ter um sentido.