Em 2015 Alexis Tsipras e o partido que lidera, o Syriza, pareciam ter mais de sete vidas. Venceram uma eleição, rejeitaram a austeridade em referendo, acordaram com os credores essa mesma austeridade e voltaram a vencer uma eleição, mostrando que o povo grego estava com eles.
Mas o partido que ontem completou quatro dias de congresso, está longe de ter o suporte popular que lhe permitiu vencer aquelas duas eleições, em janeiro e em setembro do ano passado. Segundo uma sondagem realizada pelo jornal Avgi, próximo do Syriza, publicada no início deste mês, 90% dos inquiridos estão insatisfeitos com o governo liderado por Tsipras e 85% acha que o país não está no rumo certo.
Para o diário “El País”, o congresso do partido, iniciado na passada quinta-feira, teve como objetivo “cerrar fileiras e frustrar o principal desejo da oposição”, nomeadamente da Nova Democracia, que seria a realização de eleições antecipadas, face ao que, acusam, ser uma incapacidade de Tsipras gerir o equilíbrio entre o programa do partido e o programa do governo.
Que a Grécia atravessa uma enorme crise financeira, já todos sabíamos, mas a verdade é que o governo tem tido bastante mais com que se preocupar, para além das várias renegociações da dívida, com os seus credores. Pelo menos, tendo em conta as inúmeras frentes de batalha onde tem combatido neste último ano, elencadas pelo “El País”: a concessão de direitos televisivos, cuja constitucionalidade é duvidosa; a tentativa de reforma da Igreja; a gestão da crise migratória; as ameaças de greves; a insurreição dos juízes; ou as manifestações constantes por parte dos vários setores profissionais gregos.
Perante este cenário, o II Congresso do Syriza serviu para preparar uma estratégia reforçada que permita ao governo concluir, junto dos credores internacionais, o pedido de “alívio da dívida grega, até ao Natal” – como foi anunciado por Tsipras, no discurso de abertura do encontro partidário – ao mesmo tempo que estabelece um plano para o anúncio de novas medidas de austeridade.
O alívio da dívida da Grécia é, ainda assim, a grande prioridade (e preocupação) do executivo. Na quinta-feira, o primeiro-ministro já tinha mostrado o seu descontentamento perante a demora da decisão, por parte dos seus credores, nomeadamente do FMI. “Esta urgência vaga para que nós ‘façamos o nosso trabalho de casa e depois logo se vê’ não é aceitável”, disse Tsipras aos colegas de partido, citado pela Reuters.