O sonho repetia-se quase todas as noites e crescia de dia para dia. Paula Amorim, agora com 45 anos, queria apostar na moda, mais precisamente na moda de luxo. E foi este sonho que lhe deu a independência: sem a família, decidiu avançar com um projeto nesta área, adquirindo, em 2005, a Fashion Clinic, uma loja multimarca.
Com a vida dividida entre Lisboa e Porto, Paula Amorim fez um percurso sempre virado para o sucesso, conseguindo, em 2010, dar mais uns quantos passos na direção de diversificar os negócios. E é neste ano que traz até Portugal a representação da Gucci. Formada na Escola Superior de Atividades Imobiliárias, nunca escondeu o fascínio pela moda e por tudo o que tem a ver com a área. Numa entrevista que deu em 2010 à revista Máxima, chegou mesmo a brincar com o assunto: «Pergunte-me a idade, mas não me pergunte quantos pares de sapatos tenho».
No entanto, a filha mais velha de Américo Amorim, o homem mais rico de Portugal, também esteve sempre muito próxima de todos os negócios da família. Começou cedo. Com apenas 20 anos já trabalhava ao lado do pai em várias áreas, somando experiência em negócios imobiliários ou agrícolas.
A filha mais velha viu o seu nome aparecer como vice-presidente em quase todas as empresas do pai. No entanto, a verdade é que Paula, mãe de um rapaz e de uma rapariga, ganha agora um outro destaque ao chegar ao comando da Galp, onde esteve quatro anos na vice-presidência, de forma a preparar-se para o novo desafio. Pela mão do pai, chega assim ao topo da empresa, onde começou por ser administradora não executiva, com direito a um vencimento anual de mais de 45 mil euros.
Quem a conhece bem sabe que é discreta e que possivelmente se podem contar pelos dedos das mãos as vezes em que apareceu nas páginas dos jornais. Uma postura que tem mantido desde sempre e que se soma a uma forma de pensar muito virada para o essencial. Os mais próximos garantem ainda que é uma pessoa que sabe ter em atenção o que os outros pensam e que prima pela ponderação. Qualidades que a têm ajudado na hora de gerir os negócios.
Para muitos, a escolha de Paula Amorim para o cargo é uma garantia de sucesso. Mas a verdade é que falamos de uma empresa com um volume de negócios na ordem dos 15,5 mil milhões de euros, com cerca de sete mil empregados e lucros que rondam os 639 milhões de euros. No entanto, até os mais céticos acreditam que a filha mais velha do homem mais rico do país estará à altura deste desafio, uma vez que sabem que Américo Amorim continuará a olhar pelos negócios e a aconselhar a família na hora das tomadas de decisão. Sendo que a filha mais velha tem um outro trunfo: é amiga de Isabel dos Santos, sócia na Amorim Energia. Além disso, Paula Amorim não estará sozinha. Também Marta, de 44 anos, segunda filha, irá estar na administração da empresa: passa a substituir a irmã mais velha na vice-presidência da Galp.
Já a filha mais nova, Luísa Amorim, de 43 anos, continuará a dedicar-se à sua grande paixão, que é a produção de vinhos. A par disto, também está na administração da Corticeira Amorim, ainda que Américo admita que a empresa fique cada vez mais sob o comando da descendência do irmão António.
Além de ser a mais velha, Paula aprendeu com o pai a desenvolver a sua veia para os negócios. Quem a conhece garante que se trata de uma mulher com visão muito virada para o mundo. Algo que muito possivelmente lhe vem do pai. Primeiro, viajar é de certo um dos principais prazeres de Américo Amorim e quem conhece o clã sabe que o empresário sempre foi defensor de que conhecer outras culturas deve fazer parte do caminho de qualquer um. «Saiam de Mozelos City. Lavem a cabeça no mundo. Não se deixem aprisionar pela mentalidade do caldo verde», sempre disse aos descendentes. Ou não tivesse ele corrido mundo com um catálogo de rolhas para encontrar mais clientes.
A saída do Rei da Cortiça
Durante anos, o tema da sucessão não era do agrado de Américo Amorim. Quando questionado por algum órgão de comunicação sobre o dia em que teria de se afastar dos negócios, o empresário depressa colocava um ponto final da conversa. Para Amorim, simplesmente não era um tema. Mas a verdade é que o maior acionista da Galp – através da Amorim Energia – tem agora 82 anos e o dia de sair de palco parece ter chegado. Américo Amorim, que chegou a ter sob a sua tutela mais de 200 empresas de várias áreas de negócio, alegou motivos pessoais e abandonou o cargo de chairman na Galp.
Nascido no seio de uma família que vivia no norte de Portugal, que nos anos 30 era caracterizado pela pobreza, quando tinha dez anos apenas usava sapatos para ir à missa ao domingo.
Quem com ele se cruzou sempre o viu como um homem duro, com muita vontade de crescer. Houve alturas em que muitos não entenderam, nem concordaram com as decisões que tomou, mas Amorim continuou a fazer aquele que achava que era o seu caminho. Sempre com algumas regras de ouro: uma a exigência, outra a palavra. Para este homem, que a Forbes chegou a coroar Rei da Cortiça, a exigência foi sempre não um ato, mas sim um hábito. Já em relação a ser um homem de palavra, Américo sempre sublinhou: «Somos uma família de contas. O aperto de mão é uma escritura».
Mas o empresário que sempre falou como sendo imortal não ganhou para o susto este ano. Estávamos já no final de março quando se multiplicaram notícias a dar conta de que tinha sido internado no Centro Hospitalar de Gaia. Por esta altura, fonte oficial do grupo Amorim admitia que não se trava de uma situação «grave», mas assumia que «efetivamente, são 81 anos. Começa a ser pesado».
A verdade é que o estado de saúde de Américo Amorim, agora com 82 anos, tem motivado sucessivas especulações nos últimos tempos, principalmente por causa das intervenções cirúrgicas de rotina que tem feito nestes últimos dois anos.
Recorde-se que, de acordo com o ranking de fortunas que a Exame fez este ano, Américo Amorim tem nada mais nada menos do que 3,1 mil milhões de euros.