Crescemos a ver anónimos sair por detrás de uma nuvem de fumo transformados em estrelas da música. Do “Chuva de Estrelas” da adolescência passámos para os guilty pleasures de adulto, que só passam nos canais que recusamos assumir como os preferidos (não, aqui ninguém vê o TLC nem o E! Entertainment Television). Nos extreme makeovers vemos quem entre gordo e saia magro, quem comece careca e saia de rastas ou até mudanças de um estilo punk para um look digno de escritório de advogados. Aqui não vamos tão longe, até porque, de um lado, temos apenas uma loja de roupa e uma personal stylist e do outro uma jornalista cujo sentido de estilo se fica pelo folhear de revistas com looks dos anos 90 esquecidas em salas de espera de consultórios ou por um ocasional olhar de fugida à “Fashion TV”, quando, por engano, a televisão fica lá sintonizada.
Antes de nos pegar em mãos – quase que literalmente e a lembrar aquilo que fazia com as bonecas na infância – Gabriela Pinheiro levou a sério o trabalho de casa. “Estive a ver as fotos do teu Facebook e percebi tens um look descontraído e que fazes muito desporto”. Vai daí que a primeira dica seja para disfarçar umas pernas desenvolvidas à conta das corridas. “Um casaco que cubra até às ancas ou uns saltos altos fazem toda a diferença”. Vamos acreditar na santa de todas as modas e deixar que o milagre aconteça.
A mudança Entramos na Nude Fashion Store com a premissa de que lá íamos encontrar a luz, neste caso personificada em forma de Gabriela, conhecida como a stylist dos famosos e que decidiu agora pôr por escrito tudo o que sabe sobre moda. “Na verdade, escrevi ‘O meu Livro de Estilo’ [Manuscrito Editora] para ver se deixo de receber mensagens dos meus amigos com dúvidas sobre o que levar vestido para uma entrevista de trabalho ou que lingerie oferecer à mulher nos anos”, ironiza.
Catarina Furtado, Júlia Pinheiro, Cláudia Vieira e Diana Chaves são algumas das clientes mais fiéis e desengane-se quem pensa que só recorrem aos serviços da profissional para brilhar em passadeiras vermelhas. “A ideia é que o look do dia-a-dia, em eventos mais light como um almoço ou a apresentação de um blogue, pareçam naturais, mas na verdade, está tudo pensado”. Quando diz tudo, é mesmo tudo. A mão no bolso, o cabelo atrás da orelha, a mala de mão ou a tiracolo, são pormenores que fazem um look e que, por isso, são treinados em frente ao espelho. “Eu trabalho para evitar a palavra mas”, explica Gabriela. “Quero que a pessoa diga que está incrível, ponto final”.
Vamos então fazer parágrafo à história e passar à transformação. Como toda a boa história começa com um antes, aqui está o nosso: camisa de dois euros comprada numa feira de artigos em segunda mão, brincos herdados de quem já não os usava, calças de ganga demasiado baratas para que seja divulgado o preço e sapatilhas o mais rasas e confortáveis possível. Mesmo assim, Gabriela garante que mal nos viu conseguiu visualizar um look. “Acontece-me imensas vezes parar em frente a uma montra e pensar que aquele vestido era perfeito para x ou y. E compro. Normalmente não me engano”. Vamos então confirmar se a fórmula é universal.
No provador espelhado começa a ganhar forma um look composto por uma camisa branca, calças bourdeaux subidas, colete preto e saltos (bem) altos. “Vês, parece logo que tens mais dez centímetros”. Deste visual – “ideal para um evento que aconteça durante o dia” – passamos para um vestido demasiado justo e curto para sair do provador sem um encolher de vergonha. “Estás ótima para um evento daqueles em que chegas e toda a gente fica a olhar para ti”, garante Gabriela. Como esse não é o nosso plano de quinta-feira ao fim da tarde, passemos ao terceiro look e com ele os tão esperados rasos, combinados com umas igualmente familiares calças de ganga. “Assim estavas ótima para um lançamento de um livro ou para um almoço mais descontraído”, explica Gabriela, enquanto nos puxa as golas da camisa para cima, “é assim que se usam este ano”.
Como a ideia é chegar a um extremo, não podíamos ir embora com a ideia confortável de jeans e calcanhares no chão. “Agora sim, vais sair da tua zona de conforto”, avisa. Mesmo que o contacto se tenha ficado por um cuscar de Facebook, um veste e despe rápido e dois dedos de conversa, Gabriela não podia estar mais certa. Saímos do provador a tentar assumir, com pouco sucesso, um vestido preto de renda e uma sandálias altas douradas. “Podias ir assim a um cocktail, por exemplo. Já para a red carpet gosto mais de vestidos realmente compridos”. Isto porque, apesar de estar habituada a quebrar tabus, Gabriela mantém-se fiel a algumas regras que considera intemporais. Tome nota: nunca ir de branco, preto ou vermelho a um casamento, não carregar na maquilhagem durante o dia, não usar leggings como se fossem calças e a roupa interior nunca, mas mesmo nunca, deve estar à mostra. Prometemos ser fiéis a todos os mandamentos e ler o livro de estilo como se fosse a Bíblia. Mas agora podemos voltar às sapatilhas?