Schäuble. “Portugal estava ser muito bem-sucedido até entrar o novo governo”

Não é a primeira vez que o homem forte das finanças alemães e braço direito de Angela Merkel ataca o governo de António Costa

Wolfgang Schäuble, ministro das Finanças alemão e fiel conselheiro de Merkel, voltou a atacar o governo português .“Portugal estava a ser muito bem-sucedido até entrar um novo governo, depois das eleições […], e declarar que não iria respeitar os compromissos com que o anterior governo se comprometeu”, atirou o homem forte dos cofres alemães aos jornalistas, citado pela Bloomberg. 

O ataque à forma como Portugal está a ser gerido não se ficou por aqui. O ministro foi ainda mais longe, deixando um vaticínio que, garante, já tinha partilhado com Mário Centeno. “Está a acontecer da forma como eu avisei o meu colega português. Eu disse-lhe que, se seguirem esse caminho, vão assumir um grande risco, e eu não tomaria esse risco”, avisou. 

As declarações foram proferidas ontem em Budapeste e os visados não foram só os portugueses: o ministro das Finanças aproveitou para “lembrar” aos Estados–membros que é preciso respeitar as regras criadas pela própria União Europeia, referindo-se à imposição dos limites do défice e da dívida pública do Pacto de Estabilidade e Crescimento.
Não é a primeira vez que Schäuble tece comentários pouco abonatórios para o governo de Costa. Em junho, o ministro das Finanças alemão tinha dito à Reuters que Portugal precisava de um novo programa de ajuda. Acabou por alterar as suas declarações, afirmando que o país não precisaria de um novo programa de resgate caso cumprisse as regras e os compromissos europeus. Na altura, Lisboa reagiu e pediu explicações formais em Berlim. 

“Mercados estão nervosos” Ainda antes, em fevereiro, Schäuble já tinha demonstrado a dureza que tinha reservada para a linha de conduta do governo português.

O primeiro sinal chegou à porta da reunião dos ministros das Finanças, a 11 desse mês. “Estamos atentos aos mercados financeiros (…). Acho que Portugal deve prestar muita atenção ao que se passa e não continuar a perturbar os mercados, dando a impressão de que querem recuar no caminho percorrido até aqui. Isso sim, seria muito perigoso para Portugal. (…) Vamos continuar a encorajar firmemente os nossos colegas portugueses a não se desviarem do caminho de sucesso que tem sido percorrido”, disse aos jornalistas. Curiosamente, como lembrou o “Observador”, “o ministro respondia a perguntas dos jornalistas alemães à entrada do Eurogrupo (…) nenhum deles perguntou sobre Portugal, mas sim sobre as preocupações com a situação do Deutsche Bank”.

Aos 74 anos, o ministro continua assim a não ter medo de comprar guerras, embora já tenha garantido que estava a entrar numa fase menos combativa da sua vida. Em julho do ano passado garantiu ao “Der Spiegel” estar próximo “de atingir o ponto em que [ficaria] mais doce com a idade” – doçura que os socialistas portugueses ainda não provaram.