Uma maior estabilidade no grau de dificuldade dos exames nacionais do 12.º ano, principalmente nos de Matemática ou Física, é um dos pontos de alerta do grupo de trabalho que está a analisar as alterações às regras no acesso ao Ensino Superior. Isto porque, frisa o presidente do Conselho de Reitores, António Cunha, o grau de dificuldade dos exames implica variações de «dois ou três mil» alunos que se podem candidatar a uma licenciatura.
Houve um aumento de 955 alunos no Ensino Superior. Estavam à espera de mais?
É um aumento que não deixa de ser importante. As universidades não estariam à espera de muito mais, houve um número significativo de universidades que preencheram todas as vagas e várias ficaram com menos de dez vagas no total por preencher.
Ficaram longe da estimativa inicial dos 78 mil estudantes. Vão lá chegar?
Tenho dificuldade em prever. Temos ainda os alunos dos concursos especiais, os maiores de 23 anos e os estudantes internacionais que estão na ordem dos 15% a 20% do valor do concurso nacional de acesso.
Há um grupo de trabalho a estudar as alterações no acesso ao Ensino Superior. O grupo de trabalho já terminou o relatório?
O grupo de trabalho já terminou o relatório. O conjunto de alterações afeta fundamentalmente, quase na sua totalidade, o sistema politécnico. Muito pouco no sistema universitário.
O que diz o documento?
Há uma questão referenciada que passa por haver uma maior homogeneidade no nível de dificuldade dos exames de ano para ano. É um elemento perturbador do sistema haver anos em que o número de candidatos varia em alguns milhares, dois ou três mil, porque o exame de matemática ou de física foi mais ou menos difícil. Não há uma razão lógica para que no espaço de um ou dois anos a média dos estudantes seja muito diferente. O nível de dificuldade dos exames podem provocar variações que criam alguma entropia do sistema.
Como se pode resolver isso?
Aumentando o nível de cuidado com que os exames são feitos e garantir que os níveis de dificuldade não mudem de ano para ano. Os exames devem ter um nível de estabilidade.
Como veem a intenção dos politécnicos em deixar cair a nota mínima dos 9,5 valores para o acesso?
Há algumas evidências, que não são simpáticas, de alguns processos indesejáveis de atribuição de notas face àquilo que são práticas normais, por parte de algumas instituições. À medida que damos menos peso ao exame nacional iremos favorecer esses fenómenos inflacionistas porque o peso das notas da escola secundária é maior. A pressão ou a eventual tentação para haver fenómenos desta natureza é maior.
Pode haver alunos a entrar com média negativa para um politécnico e que ficam com o mesmo grau que um aluno de uma universidade?
Mesmo que haja designações idênticas de grau, a formação vai ser diferente entre universidade e politécnico, portanto os mercados de emprego, as entidades empregadoras e os próprios candidatos vão reconhecer isso. Há questões importantes e que não vamos fugir delas, sobretudo nas áreas onde a nota final do curso é crítica para a procura de um prego, como é o caso da formação dos professores. Estas questões têm de ser acauteladas. Os níveis de exigência devem ser idênticos. É um trabalho que tem de ser feito e temos de dar alguns passos.