Quantos de nós passámos, ou vivemos de perto, a dúvida vocacional? O nosso sistema de ensino determina que, ainda muito novos, sejamos colocados na posição de tentar decifrar o que queremos ser para o resto da vida. Mas a verdade é que, apesar de exigir esta escolha, não nos oferece instrumentos para que a possamos fazer em consciência. E, justamente por isso, são frequentes os casos de adolescentes que saltitam entre cursos universitários em busca de, numa dessas salas de aulas, viverem a tal epifania que lhes é exigida. Alguns têm essa sorte, outros contentam-se com um mal menor. Um terceiro grupo, porém, pertence a uma elite de sortudos que desde muito novos sabem o que querem fazer na vida. É o caso de Maria Barros, cuja carta aberta para o Presidente da República circulava esta semana na internet. A jovem de 18 anos não entrou no curso de Medicina por três décimas (a sua média foi de 17.8) e, no texto escrito a Marcelo Rebelo de Sousa, explica que está a realizar o Curso de Preparacion a la Universidad do Instituto Cervantes para ingressar num estabelecimento de ensino espanhol, mas que o faz “triste” porque há 15 anos que arrasta “a malinha de médicos de brincar pelo seu quartinho cor-de-rosa”.
E acrescenta: “O curso de Medicina é e sempre foi o que desejei para a minha vida”. Este é obviamente um texto emocional, de alguém que, para perseguir um sonho, terá de sair do país onde vive. Mas acima de tudo estas palavras voltam a trazer para a discussão um tema antigo. Devem ser as médias os únicos fatores a ter em conta na hora de ingressar numa universidade? Acho que não e penso desta forma porque conheço extraordinários profissionais, nas mais variadas áreas, que foram alunos questionáveis. Alguns só descobriram a vocação para as áreas em questão quando já estavam na universidade. E se tivessem ficado pelo caminho?
Dito isto, acho igualmente importante que não se criem aqui enganos ainda maiores. É que mesmo que o acesso à universidade incluísse provas vocacionais, continuaríamos a ter jovens que não foram colocados nos cursos que desejavam. A ironia é que, desta rejeição, como de qualquer outra rejeição, por vezes podem surgir soluções positivas.