A Amnistia Internacional divulgou, esta quinta-feira, um novo relatório que denuncia tratamentos abusivos e violentos por parte da polícia italiana aos migrantes que chegam ao país. O documento conta com relatos de diversos refugiados que garantem ter sido alvo de agressões físicas, choques elétricos e humilhações várias, incluindo sexuais.
Na origem dos abusos, alega a organização, está a nova abordagem, definida pela União Europeia, de criar “hotspots” onde os migrantes são identificados e sujeitos à recolha obrigatória das impressões digitais. Muitos dos recém-chegados recusam-se a fornecer estas impressões, já que pretendem pedir asilo noutros países europeus, onde têm familiares e amigos, pelo que é nestes casos que as autoridades fronteiriças italianas agem para além da legalidade.
“Recolhi testemunhos coerentes, de pessoas que me explicaram como foram espancadas, esbofeteadas e (…) eletrocutadas com bastões, de pessoas que foram ameaçadas, de pessoas que foram detidas arbitrariamente para serem forçadas a dar as suas impressões digitais”, conta Matteo de Bellis, um investigador da Amnistia em Itália, à televisão britânica BBC, revelando que entrevistou um total de 170 migrantes.
“Na sua determinação em reduzir a deslocação de refugiados e migrantes para outros Estados-membros, os líderes da UE incitaram as autoridades italianas a ir até aos limites – e para além – do que é legal”, acusa ainda o investigador, em declarações reproduzidas no site da organização não-governamental.
Um refugiado oriundo da região sudanesa de Darfur revela que a polícia o agarrou pelos ombros e pelas pernas e puxou os seus testículos com um alicate. “Não consigo descrever o quão doloroso foi”, confessa.
Um outro rapaz, de 16 anos, da mesma zona do Sudão, diz que as autoridades fronteiriças lhe causaram “choques nas pernas, no peito e na barriga”, ao ponto de o deixar de tal forma débil, que “não conseguiu resistir quando colocaram os seus dedos na máquina” de recolha das impressões digitais.
A Amnistia Internacional refere, contudo, que este tipo de abusos não acontece em todos os postos, nem com todos os polícias destacados, pelo que reivindica a necessidade de se proceder a uma “revisão independente das práticas” denunciadas no relatório.