Carsharing. Hoje levas tu, amanhã levo eu, poupamos os dois

A uberPOOL chega a Lisboa numa altura em que os portugueses se mostram cada vez mais adeptos da partilha de viagens. Seja para ir trabalhar ou para uma viagem de longo curso, multiplicam-se os sites, aplicações e grupos de Facebook.

Cátia Barros nunca tinha feito as contas, mas basta uma de subtrair para chegar a um número de que se orgulhe. Desde que começou a partilhar boleia para o trabalho consegue poupar 159 euros por mês, entre portagens e combustível.

A trabalhar numa multinacional em Palmela, era comum cruzar-se com colegas em plena Ponte Vasco da Gama. “Começámos a achar aquilo ridículo e sentámo-nos à mesa a estudar uma solução”, conta ao i. O grupo de Cátia é composto por quatro pessoas, mas são vários os colegas que se organizam dentro da empresa de modo a poupar dinheiro na inevitável viagem casa-trabalho-casa.

O esquema está montado de maneira a que cada um esteja encarregue de levar carro durante uma semana. “Cada um vem de sua casa para um ponto de encontro escolhido por nós, neste caso em Marvila, onde podemos deixar o carro sem pagar. A partir daí seguimos no carro escolhido para essa semana”. Tudo está esquematizado e contempla até as férias de cada um, de maneira a que ninguém fique sobrecarregado.

História contada e contas feitas totalizam um gasto individual de 40 euros de depósito cheio e 13 de portagens semanais, valor que se podia multiplicar por quatro caso não dividissem as viagens de um mês por quatro pessoas.

A iniciativa de Cátia tem vindo a multiplicar-se por quem faz viagens de longo curso, ou até mesmo por quem, como ela, apenas tem que atravessar a ponte até à margem sul. Pode até falar-se numa tendência, ora veja-se os números: cerca de 43% dos portugueses mostraram-se interessados na utilização conjunta de viatura, ainda que apenas 6% já a tenham praticado. Importante lembrar que esta conclusão é de um estudo de 2013 e que entretanto foram várias as aplicações, sites e grupos de redes sociais para partilha de carro que surgiram dando prova de um interesse crescente dos portugueses por poupar em viagens do quotidiano.

Uber de partilha O último passo dado na direção de um sistema de viagens partilhado foi anunciado esta semana pela Uber, que a partir de amanhã tem disponível o uberPOOL, que permite que pessoas que se desloquem na mesma direção e ao mesmo tempo possam partilhar a viagem.

“Desta forma é possível ter mais pessoas em menos carros, o que é sinónimo de viagens mais económicas para os passageiros, já que dividem o custo entre si”, explicou ao i Filipa Corrêa Mendes, diretora de marketing da empresa.

A opção estará disponível na aplicação  de 4 a 13 de novembro, em Lisboa, com a garantia de que o mesmo serviço fica 25% mais barato. Este é um sistema que, defende a responsável, funciona bem em cidades grandes, “precisamente porque há muitas viagens na mesma direção – ou seja, é muito fácil juntar pessoas no mesmo carro para partilhar percursos entre si”.

A escolha das datas para o teste não foi feita ao acaso. Acontece durante a Web Summit, conferência de empreendedorismo que traz milhares de pessoas a Lisboa e que, por isso, tornará desafiante a circulação na cidade.

Apesar de se tratar para já de uma fase piloto, a empresa acredita que pode vir a ser um serviço permanente. Para isso baseia-se nos números recolhidos na experiência internacional: nos primeiros sete meses de 2016, o uberPOOL já poupou às 33 cidades com o sistema implementado mais de 502 milhões de quilómetros, mais de 23 milhões de litros de combustível e mais de 55 mil toneladas de dióxido de carbono.

Menos carros na cidade Os anos de crise despoletaram a vontade de poupança, que se refletiu num aumento do uso de transportes públicos e partilha de boleias como meio de chegar ao centro de Lisboa. No entanto, e apesar dos esforços da autarquia para perpetuar esta tendência, o carro particular voltou a ser o meio de deslocação privilegiado para quem se movimenta em Lisboa. Segundo o “Diário de Notícias”, em dois anos, há mais 15 mil carros por dia a circular na capital. Em 2014 entravam em Lisboa 355 mil carros por dia, número que aumentou para 366 mil em 2015 e para 370 mil este ano.

Números destes levaram a Câmara Municipal a anunciar um investimento extra na mobilidade, com a criação de mais sete mil lugares de estacionamento, três mil dos quais para residentes.

Além de mais sítios para deixar carro, a sua localização também vai passar a ser estratégica. Está prevista a criação de novos parques de estacionamento a serem implementados junto a estações de metro, com custo reduzido para os utilizadores de transportes públicos. Com esta medida a autarquia espera ver reduzido o número de carros a entrar no centro da cidade.

“É urgente mudar esta realidade”, refere a câmara, concluindo: “Queremos facilitar a vida aos residentes e dar mais escolha de mobilidade a quem entra na cidade”.

Essas opções vão passar também a privilegiar as duas rodas. Com as obras que decorrem atualmente em toda a cidade, Lisboa vai chegar aos 200 quilómetros de ciclovias. Atualmente fica-se pelos 60 quilómetros.

Além de espaço exclusivo de circulação, os que preferem a bicicleta para as deslocações diárias vão ter disponíveis a partir do próximo ano 1410 bicicletas (940 elétricas e 470 convencionais), numa rede de partilha a abranger toda a cidade. As bicicletas vão estar espalhadas por 140 estações: 92 no planalto central da cidade, 27 na baixa e frente ribeirinha, 15 no Parque das Nações e seis no eixo central.

E se até uma bicicleta se pode partilhar, porque não dividir um carro?