Desfeito, no passado fim de semana, o bloqueio político que deixou Espanha sem governo durante dez meses – graças à abstenção da grande maioria dos deputados do PSOE na votação de investidura do novo Governo – o (antigo) novo primeiro-ministro, Mariano Rajoy, do Partido Popular, decidiu agarrar-se praticamente às mesmas pessoas que, com ele, lideraram o país nos últimos quatro anos, pelo meio de uma crise económica dramática e com sucessivos escândalos políticos e de corrupção.
A legislatura já seria difícil por si só, tendo em conta a delicada situação financeira que o país vizinho atravessa ou o crescimento dos movimentos independentistas na Catalunha e no País Basco. Mas há que contar ainda com uma posição minoritária no Congresso dos Deputados, onde se encontra um moribundo PSOE, ferido no orgulho, um aspirante Podemos, sedento de protagonismo, e ainda um semi-benevolente Ciudadanos, pronto a rasgar o compromisso das 150 medidas acordado com o PP, caso Rajoy falte com a palavra.
A imprensa espanhola bem se esforçou, durante a semana, para elencar prognósticos detalhados sobre a nova equipa de Rajoy, mas quando foram anunciados, na quinta-feira, os nomes que compõem o novo executivo do PP, o diagnóstico geral era unânime: poucas surpresas. Quer na estrutura do governo, quer nos ocupantes dos cargos ministeriais.
Mariano Rajoy apresentou ao Rei Felipe VI as mesmas 13 pastas do Executivo que liderou entre 2012 e 2015 e trouxe para a ribalta seis novas caras. As mais destacadas são María Dolores de Cospedal, a secretária-geral do Partido Popular, que ocupará o Ministério da Defesa; Alfonso Dastis, que será o novo ministro espanhol dos Negócios Estrangeiros; e Juan Ignacio Zoido, que será o novo ministro do Interior.
Quanto às áreas-chave do estilo de governação seguido pelo PP nos últimos anos – a política e a economia – mantêm-se os protagonistas. Soraya Sáenz de Santamaría volta a ficar com o cargo da vice-presidência do governo, valorizado com a pasta das Administrações Territoriais; Luis de Guindos acrescenta a Competitividade e a Indústria às suas responsabilidades como ministro da Economia; e Cristóbal Montoro repete a nomeação para as Finanças.
É, portanto, com os mesmos generais que Rajoy vai enfrentar um parlamento hostil, no qual apenas conta com 137 valorosos soldados, num total de 350 deputados que compõem a câmara. O primeiro grande combate será chegar a acordo com o Partido Socialista e restantes partidos, para a aprovação de um orçamento de Estado que terá, obrigatoriamente, de cortar na despesa e contribuir para a redução do défice.
«A parte mais difícil começa agora. Veremos como se gere esta legislatura», dizia um experimentado deputado do PP ao El País. Mas se há coisa a que Mariano Rajoy já habituou os espanhóis, é que tem mais vidas das que aparenta.