Falta pouco para conhecermos o vencedor de uma das mais insólitas corridas à presidência dos EUA dos últimos tempos e à medida que o cronómetro vai dando conta dessa contagem decrescente, atropelam-se os prognósticos, os artigos e as profecias sobre aquilo que pode acontecer na terça-feira, dia 8 de novembro.
Neste tempo de azáfama pré-eleitoral, o excesso de informação pode levar o mais dedicado leitor da comunicação social norte-americana a perder-se num labirinto sem fim de números, gráficos e sondagens, que vão sendo divulgados quase de hora a hora.
Se há coisa que esta campanha nos mostra, pelas características únicas dos seus dois protagonistas – Donald Trump e Hillary Clinton – e do ambiente que envolve as suas candidaturas, é que não faltam temas para se discutir e cenários para colocar em cima da mesa, que vão para além dos números e das sondagens e que têm que ver com as dúvidas sobre o papel que as principais figuras da corrida podem assumir a partir da próxima quarta-feira.
Uma dessas incógnitas está relacionada com a figura de Bill Clinton, marido de Hillary. Caso a candidata pelo Partido Democrata confirme o (tímido) favoritismo que ainda carrega e seja eleita presidente dos EUA, haverá a curiosidade natural de saber o que estará reservado para o ex-presidente.
A verdade é que pouco se sabe sobre os planos da candidata para o marido Bill, em caso de vitória. O site politico chama-lhe mesmo o “maior segredo de Hillary”. Em causa estão diversos fatores, que oferecem um grau elevado de imprevisibilidade à postura a seguir por aquele: os diferentes papéis, mais ou menos interventivos, seguidos por cada uma das primeiras-damas; o facto de Bill Clinton ser um antigo presidente; os alegados escândalos sexuais em que já viu o seu nome envolvido; o seu cargo na Fundação Clinton, numa perspetiva de poder vir a ter uma posição privilegiada de acesso ao presidente; ou até pelo facto de Clinton ser o primeiro homem naquele papel.
“Para o papel de primeira-dama não há descrição de funções”, lembra Melanne Verveer, que serviu como chefe de gabinete de Hillary, durante a presidência de Bill Clinton, ao politico. “Não é um trabalho fácil de definir, nem para as mulheres que o ocuparam historicamente, quanto mais para o primeiro homem”, acrescenta.
Um outro antigo funcionário dos Clinton arrisca-se, ainda assim, a prever que Bill vai ser “uma parte indispensável” da administração da mulher, pelo que já passou na Casa Branca. Na mesma linha, o jornalista Jeffrey Goldberg, citado pelo “The New Yorker”, acredita que o ex-presidente vai ter um papel de destaque e que pode passar, por exemplo, pela sua nomeação como “super-negociador para o Médio Oriente”.
Numa outra linha, no entanto, há quem aconselhe o eventual “primeiro-cavalheiro” – o nome inventado para o ‘cargo’ pela comunicação social dos EUA – a meter-se o menos possível na presidência da mulher. “A atenção deve estar centrada na primeira presidente mulher e não no ex-presidente”, considera Ruth Marcus, outra jornalista, num artigo de opinião publicado no “Washington Post”. “Será o mais correto [a fazer], mesmo sem termos em conta o historial sexual e financeiro de Bill Clinton”, acrescenta Marcus, antes de sugerir ao antigo chefe de Estado: “Jogue golfe (…), arranje um novo cão e retire-se completamente”.