Meio da manhã do primeiro dia da Web Summit. Tranquilamente, aqui e ali, grupos de pessoas encaminham-se para o Pavilhão 4 da FIL, na zona do Parque das Nações, em Lisboa, onde é feito o registo dos mais de 50 mil participantes, bem como de oradores, investidores e jornalistas. No total cerca de 72 mil pessoas tomam de assalto Lisboa durante esta semana.
Fast forward. Uma hora para o arranque da Web Summit, agendado para as 18h00, pela mão de Paddy Cosgrave, mentor da cimeira. Aquele que, umas horas antes, era um cenário tranquilo, está agora coberto por um mar de gente. Uma fila de centenas de pessoas procura ainda tratar do registo; outra, consideravelmente maior – que é como quem diz que mais parece um braço que dá a volta à Meo Arena – aguarda já a abertura de portas para assistir à cerimónia inaugural, conduzida por Paddy Cosgrave. Vir-se-ia a saber mais tarde que mais de três mil pessoas não chegaram a entrar no recinto, tendo assistido ao arranque da Web Summit através de ecrãs gigantes instalados no exterior da Meo Arena.
Lá dentro, a 15 minutos do arranque previsto já é impossível contar cabeças. Os espaços livres são ocupados, não interessa se há cadeiras. Fala-se português, francês, italiano, inglês, chinês, espanhol, línguas que nem se identificam à primeira. A banda sonora – que inclui temas como “Spectacular Times”, de Lumigraph – tenta distrair uma plateia cada vez mais impaciente. Faz-se a onda, iluminam-se os telemóveis, batem-se palmas. Onde está Paddy Cosgrave? parece ser a pergunta que paira no ar. A resposta chega de imediato, pela voz off: “Ladies and gentlemen please take your seats. Centre stage will begin in 5 minutes.”
Trinta minutos depois da hora marcada, ali está ele, o homem que cresceu numa zona rural nos arredores de Dublin, e que em 2009 criou, com dois amigos, a Web Summit, inicialmente para uma plateia de 400 pessoas e que agora sobe ao palco para se dirigir a 15 mil.
Descontraído, agradece aos presentes e às forças políticas portuguesas, lamenta as pessoas que ficaram lá fora, recorda o passado, sublinha a inédita ausência da mulher porque, há três semanas, teve um bebé. Depois, desafia a plateia para que usem os telemóveis para partilharem o que está acontecer naquele momento através do Facebook. Mas falha-lhe a net, para gargalhada do próprio e da plateia. Brincadeiras à parte, diz ter encontrado “algo único a acontecer em Lisboa, um zeitgeist que não viu em mais nenhuma outra cidade do mundo” e, desta forma, chama ao palco António Costa.
Num brevíssimo discurso, o primeiro-ministro afirma desejar que as pessoas “recordem Portugal como um país dinâmico, progressivo e aberto” e que espera que a Web Summit serve “para afirmar o país como uma localização para investir” e que todos possamos “lucrar” com esta iniciativa.
Vaias para Barroso É Durão Barroso – juntamente com Roberto Azevedo, diretor-geral da World Trade Organization, e Mogens Lykketoft, presidente da assembleia da ONU – o protagonista do primeiro painel desta Web Summit. O ex-primeiro-ministro e ex-presidente da Comissão Europeia subiu ao palco perante aplausos tímidos intercalados por vaias e assobios.
Imune às reações, Barroso foi o primeiro a tomar a palavra, com uma nota prévia: “O meu nível de honestidade tem aumentado desde a saída da Comissão”. Foi assim, imbuído de honestidade, que o atual presidente da Goldman Sachs falou das eleições nos EUA, que considera representarem “uma luta existencial, a nível global, entre as forças da abertura e as forças do nacionalismo, do protecionismo, do chauvinismo. O resultado destas eleições será extremamente importante para todos aqueles que querem uma sociedade e uma economia aberta.” Confrontado com o papel atual da União Europeia, Barroso falou do “glamour intelectual do pessimismo” que, hoje em dia, parece marcar a forma de estar de muitos, mas defendeu “a resiliência da UE perante as mais variadas crises ao longo dos anos.” E se, por um lado, não negou a gravidade do Brexit, recordou que a Grécia ainda se mantém na UE.
No mesmo painel, Mogens Lykketoft, presidente da assembleia da ONU, aproveitou para sublinhar a importância da eleição de António Guterres para a liderança da ONU na união de forças de paz. “É o homem certo para o lugar.” Já Roberto Azevedo, diretor-geral da World Trade Organization, apela também à união, mas sobretudo ao eleitorado mundial, para que reaja e não se conforme com respostas fáceis. Até porque as respostas do presente e do futuro não são fáceis. “Resistir à globalização não é o caminho. O caminho não é dar respostas fáceis. É preciso fazer mudanças de fundo.
Já depois deste painel e do protagonizado pelo ator Joseph Gordon-Levitt, Paddy Cosgrave regressou ao palco da Meo Arena para chamar para junto de si Miguel Amaro, da Uniplaces; Jaime Jorge, da Codacy; e João Vasconcelos, secretário de Estado da indústria; mas também os 150 CEOs de startups portuguesas ali presentes. Foi assim, de palco cheio – onde entretanto se juntaram António Costa e o presidente da Câmara de Lisboa, Fernando Medina – que João Vasconcelos, considerado por Paddy Cosgrave o “ministro das startups”, elogiou todos aqueles presentes na Meo Arena. “Antes vinha aqui ver concertos, mas hoje os rock stars do meu país são os líderes tecnológicos, cientistas e empreendedores.” Paddy Cosgrave sorriu, agradeceu mais uma vez ao governo português, e sobretudo à equipa da Codacy, startup portuguesa que venceu a Web Summit em 2014 e que alertou o irlandês para o nosso país.
E foi assim, entre trocas de galhardetes e ideias de um futuro construído neste pavilhão, ao longo dos próximos dias, que a Web Summit foi oficialmente inaugurada.