Paddy Cosgrave pede uma “receção espetacular” para o senhor que se segue. E o senhor que se segue é um dos mais comentados oradores desta edição da Web Summit. Joseph Gordon-Levitt, ator que recentemente deu vida a Edward Snowden no filme “Snowden”, de Oliver Stone, sobe ao palco da MEO Arena para falar do seu “lado B”. E foi mesmo uma receção espetacular, com as bancadas do pavilhão a encherem-se com as luzes de milhares de telemóveis.
Acompanhado em palco pela jornalista da CNN Laurie Segall, Gordon-Levitt começou com uma viagem até ao passado, à descoberta da tecnologia, que na verdade esteve sempre na sua vida, ou não fosse o seu pai, Dennis Levitt, diretor de informação da Pacifica Radio, na Califórnia, viciado em computadores. “Lembro-me do meu primeiro computador, um Commodore 64”, diz, para logo de seguida desenrolar uma série de códigos MS-DOS. Fala da “maravilhosa” descoberta do Windows e, sobretudo, de como, devido ao Final Cut Pro, passou de usar PC para usar Mac. “De repente podia editar vídeos em casa. Era incrível. Tinha 21 anos e podia fazer em casa como faziam nos estúdios a sério.”
Hoje considerado um dos mais bem-sucedidos atores da atualidade, Gordon-Levitt começou a representar com apenas seis anos, inicialmente na televisão e depois no cinema. Perante o sucesso precoce, no início da década de 2000 afastou-se da ribalta para estudar. Quando quis regressar à representação percebeu que não seria tão simples como poderia imaginar. Mas é na adversidade que nascem os novos desafios. “Não tinha muito que fazer. Queria representar mas não arranjava papéis, tinha ido estudar e, quando quis voltar, ninguém me dava trabalho. Foi nesta altura que, com o meu irmão, criei a HitRecord, porque queria estar ocupado. E a verdade é que a criatividade acontece nos momentos de dor e tristeza”, conta à plateia da Web Summit. “Nunca achei que fosse uma empresa, mas a verdade é que, aos poucos, começou a nascer uma comunidade.” E é sobretudo isto que a HitRecord é: uma comunidade online que trabalha para juntar artistas, como se de uma empresa de produção se tratasse. “O que queremos mostrar é o que é possível fazer quando as pessoas colaboram. A HitRecord não é uma comunidade narcisista.” Sempre que elementos da HitRecord conseguem vender as suas produções, os lucros são pagos aos artistas envolvidos. Nos seus seis anos de vida, a plataforma pagou dois milhões de dólares a artistas colaboradores. “Não fazemos filmes para ganhar dinheiro, ganhamos dinheiro para fazermos mais filmes”, remata Gordon-Levitt.
Otimista nato – “tenho de ser, especialmente hoje”, diz em referência à proximidade das eleições norte-americanas –, Gordon-Levitt considera que, ao contrário do que muitos dizem, “ainda estamos no princípio da internet.” De resto, o ator partilha este otimismo com Edward Snowden, a quem recentemente deu vida e de quem ficou amigo: “O Edward viveu o pior da tecnologia, mas também foi sempre otimista e acredita que, no final, a tecnologia dará liberdade às pessoas.” A questão, acredita o ator, é perceber “o que as gerações futuras vão fazer com a tecnologia, porque não vai ser tirar fotos do almoço e partilhar nas redes sociais”. O futuro, para ele, é o trabalho em comunidade.
A fechar, a jornalista Laurie Segall ainda surpreendeu o ator, pedindo-lhe que falasse sobre o papel do fracasso na sua vida, o que levou Gordon-Levitt a recordar como teve de adiar o lançamento da HitRecord, o que o deixou “devastado”, mas ao mesmo tempo lhe permitiu aprender. “Nunca mais disse que lançaria algo num dia específico”, rematou Joseph Gordon-Levitt, para logo de seguida acrescentar um agradecimento aos pais por “nunca terem enfatizado o sucesso. É por isto que continuo a ser ator.”