Donald Trump já o disse, em mais do que uma ocasião, e voltou a repeti-lo este domingo: as eleições a que concorre para o cargo de presidente dos Estados Unidos estão manipuladas.
Em causa, acusa o magnata, está o apoio declarado de grande parte dos meios de comunicação norte-americanos a Hillary Clinton, o arquivamento da investigação do FBI aos emails confidenciais que passaram pelo servidor que a candidata mandou instalar em sua casa ou ainda a não proibição da candidatura da democrata, tendo em conta as várias suspeitas de corrupção que pairam sobre a sua figura.
As acusações de Trump levaram-no inclusivamente a deixar no ar a ameaça de que irá recorrer a “todos os meios legais” para contestar uma eventual vitória de Hillary, pelo que a ávida imprensa norte-americana iniciou um apurado processo de levantamento das questões que podem sustentar uma denúncia de tamanha gravidade.
Jon Schwarz, do site Intercept, foi um dos que se dedicaram a esse trabalho moroso e, em jeito de conclusão, concorda com o candidato do Partido Republicano, afirmando que as eleições estão, garantidamente, viciadas.
As consequências de uma eleição destas, defende o jornalista, são, no entanto, contrárias às apontadas pelo magnata, uma vez que Schwarz defende que é o próprio Trump que sai beneficiado daquilo que aponta como falhas existentes no sistema eleitoral dos EUA.
Num artigo publicado naquele site, no domingo, Schwarz aponta nove limitações no acesso ao voto que, acredita, afetam uma determinada fatia da população que não se enquadra no típico eleitor republicano.
Entre as falhas apontadas estão a obrigatoriedade de recenseamento eleitoral, o facto de o “Election Day” calhar num dia de trabalho ou, por exemplo, a impossibilidade de 6,1 milhões de norte-americanos poderem exercer o seu voto este ano porque estão presos ou condenados.
Num tom mais crítico e passível de diferentes interpretações, Schwarz refere que a legislação eleitoral que vigora a nível nacional e em diversos estados – particularmente nos republicanos – não garante uma representação fiel da população dos mesmos, já que prejudica as grandes cidades, onde os eleitores tendem em votar nos democratas. Esta realidade, acusa o jornalista, é bem visível na composição do Senado, onde os estados têm igual representação, independentemente da população e do número de eleitores.
Numa linha mais dura e de clara confrontação com o ideal republicano, Schwarz fala numa prática de “supressão dos eleitores”, presente nos “corações” daquele grupo político, em zonas onde residem mais pessoas passíveis de votar nos democratas. Essa supressão, acusa, passa por dificultar o voto através da redução dos locais e horários de votação, do levantamento de obstáculos burocráticos e até da intimidação.
António Saraiva Lima
antonio.lima@ionline.pt