Hillary Clinton perdeu e perdeu em muitos estados que nem os próprios republicanos esperavam ganhar. Não foi só na Florida ou na Carolina do Norte, foi em estados há muito nas mãos dos democratas como Michigan ou Wisconsin. A derrota de Clinton deve-se em grande parte ao voto anti-sistema da classe trabalhadora branca que somou os seus sufrágios aos eleitores tradicionais republicanos.
É interessante verificar que foi também no Michigan e no Winsconsin que Hillary foi derrotada nas primárias pelo candidado mais à esquerda Bernie Sanders. Muitos dos trabalhadores sindicalizados recusaram votar em Hillary Clinton, cortando o laço tradicional entre os democratas e os sindicatos. O problema de Clinton é que ela apareceu para a maioria dos 200 milhões de eleitores norte-americanos como uma candidata do sistema. Todos os estudos davam que Sanders, como era também um homem anti-sistema, vencia com mais facilidade Donald Trump que Clinton.
Nas sondagens eleitorais à boca das urnas ficou claro um dado curioso, embora a presidência de Obama tenha merecido a apreciação positiva de 54% dos eleitores, o governo federal tinha a rejeição de 69% dos americanos que acorreram às urnas. Hoje nos EUA a primeira industria são os bancos. O processo de globalização económica e financeirização da economia levou a crise a muitos milhares de trabalhadores norte-americanos.
O protecionismo de Trump parece, aos eleitores, uma resposta a essa crise, a manutenção da dinastia Clinton aparecia como mais do mesmo. Acresce que a campanha de Hillary Clinton não entusiasmou ninguém, nem negros, nem latinos, nem mulheres, apesar dessas camadas da população terem votado mais em Clinton do que em Trump. Mas é preciso não esquecer que embora haja 13% de votantes negros e 12% de hispânicos, continuam a existir 70% de votantes brancos. A derrota de Hillary é a condenação de um conjunto de elites, mas abre caminho a muitas políticas com resultados muito perigosos e baseados no unilateralismo, na agressividade e na xenofobia.