“Se há alguém incontornável em toda a cinematografia é oGodard”, disse Paulo Branco ao i, a propósito da retrospetiva que o LEFFEST – Lisbon & Estoril Film Festival dedica por estes dias ao realizador francês. Quiçá influenciado pelo pai, Juan Branco quer aproveitar a vinda a Portugal para regressar ao festival organizado por Paulo, onde esteve pela última vez há dois anos, e ver “toda a retrospetiva dedicada a Godard”.
O cinema, de resto, corre no sangue do jovem advogado de 27 anos, assessor jurídico de JulianAssange, que conheceu há três anos durante o combate à HADOPI, lei francesa que determinou o corte de internet a reincidentes em downloads pirata. Atualmente, Juan Branco encabeça um projeto em França que procura financiamento para realizar um filme sobre a vida de Assange e a WikiLeaks. “O que já foi feito não era muito bom”, comentou com o i, a propósito do filme de 2013 “O QuintoPoder”. “Temos um projeto interessante.”
Mas não foi o cinema que trouxe Juan Branco a Lisboa. Foi, isso sim, a WebSummit e a possibilidade de discutir a segurança na internet e o papel da WikiLeaks. Ainda assim, a discussão acabou por ser muito mais centrada nas eleições norte-americanas, nomeadamente na revelação de mais de 30 mil emails de Hillary Clinton, e no consequente corte do acesso à internet que a embaixada do Equador em Londres impôs a Julian Assange, que ali se encontra retido desde 2012. “A WikiLeaks foi tratada de forma diferente dos outros órgãos de comunicação social, mas não devia. Devemos ser tratados da mesma forma. Se qualquer outro órgão tradicional tivesse tido acesso ao mesmo material que a WikiLeaks teve, também o publicaria. Era impossível reter esta informação até depois das eleições”, disse Juan Branco, que acrescentou ainda que a única razão porque apenas revelaram informação relacionada com a candidata democrata teve a ver com o facto de não terem recebido nada sobre Donald Trump, ainda que tenham pesquisado o candidato republicano nos vários documentos que receberam.
Fora isto, a equipa de Julian Assange nunca procura informação ativamente. “Nem somos hackers. A informação chega até à WikiLeaks anonimamente, analisamo-la de forma extremamente rigorosa e, caso exista interesse público, revelamo-la. Mas claro que sabemos que há fontes dos dois lados, o bom e o mau, mas o mais importante é o valor da informação”, acrescentou quando questionado acerca dos rumores do envolvimento do governo russo na fuga de emails de Hillary Clinton.
Juan Branco não nega que a revelação desta correspondência pode ter influenciado o resultado das presidenciais. Mas não acusa qualquer sentimento de culpa por parte de Julian Assange ou da WikiLeaks. “Não nos sentimos responsáveis pelo resultado das eleições nos EUA. O Julian não tentou ter outro papel que não o de informar e, como ele disse várias vezes, os americanos deviam todos ver a WikiLeaks antes de votar.”
Este discurso, no entanto, não quer dizer que Juan Branco defendaDonald Trump. “Foi um processo muito triste, democraticamente não houve grandes debates e nenhum dos dois conseguiu convencer o eleitorado americano. Pessoalmente não tenho nenhum apreço ideológico pelo Trump, mas tão-pouco consigo aderir à Clinton.Sou um pouco como o Julian, que já fez muitas manifestações de apoio à candidata verde, Jill Stein, mas ela não está em posição de ganhar.”
Por isto, o que parece certo é que, qualquer que seja o vencedor – e esta conversa aconteceu a horas de se saber o resultado –, isso trará implicações para Assange: “A eleição de Clinton vai dificultar, ainda mais, o trabalho da WikiLeaks, mas não acho que a eleição de Trump seja diferente. Espero que o resultado final seja Clinton mas, se for Trump, esta gente não tem memória e, apesar de agora dizer que nos apoia e que somos uma organização importante, só o faz porque lhe é útil para a campanha. Estou convencido que, se ganhar, no dia seguinte atacará a WikiLeaks e o Julian com a mesma intensidade que a Clinton.” Ainda assim, Juan Branco acredita que estes ataques não implicarão a condenação de JulianAssange. Até porque, para o advogado, isso é praticamente impossível. “Judicialmente é muito difícil condená-lo porque, se o fizessem, teriam de condenar muitos órgãos de comunicação social. O Julian não é hacker, não roubou informação, apenas a recebeu e publicou.Não podem condená-lo por fazer trabalho de jornalista, por isso, a técnica é deixá-lo neste limbo judicial, detido numa embaixada. Mas espero que esta situação se resolva rapidamente.”illlay