Donald Trump vai ser o próximo presidente dos Estados Unidos. O magnata do imobiliário virou as sondagens do avesso e cumpriu pelo menos a primeira das suas promessas de campanha: pôs de lado as elites de Washington que ao longo de um ano e meio defenderam que elegê-lo seria uma opção catastrófica para o país e para a sua posição no mundo.
Calcular os seus próximos passos não é uma ciência exata. Poucas propostas estão claramente desenhadas – uma exceção é a sua ideia de cortar substancialmente os impostos para as empresas –, muito do seu plano eleitoral está concebido em ideias vastas, como e rejeição de acordos de livre-comércio, e outras promessas sofreram mutações ao longo da campanha.
Sabe-se que quer construir um muro na fronteira e fazer com que o governo mexicano o pague, mas não se sabe como o conseguirá; promete vagas de deportações de imigrantes ilegais, mas não é inteiramente certo como vai proceder; disse querer travar a entrade de muçulmanos no país, mas desde então alterou a proposta tantas vezes que a sua forma atual é incerta.
O seu programa a longo-prazo pode demorar algum tempo a maturar, mas há muito que se pode antecipar nos seus primeiros dias na Casa Branca. Trump promete há meses revogar todas as ordens executivas assinadas por Barack Obama. Estes são os comandos que não requerem aprovação do Congresso, mas que podem ser revogados por qualquer presidente.
Obama usou esta tática para contornar a maioria republicana nas duas câmaras do Congresso, sobretudo no que diz respeito a regras sobre as emissões de gases tóxicos, aumentos salariais no governo, proibição da deportação de filhos de imigrantes ilegais ou, por exemplo, liberalizar o acesso a subsídios de maternidade e paternidade a casais do mesmo sexo.
Tudo isto pode desaparecer no primeiro dia da admnistração Trump. Incluindo a participação dos Estados Unidos na Cimeira de Paris, o vasto acordo global de combate às emissões de dióxido de carbono assinado por quase 200 países, incluindo a China, e que entrou este mês em vigor. Trump, recorde-se, diz que o fenómeno de aquecimento global “é uma charada”.
E não é só neste aspeto que o legado de Barack Obama está ameaçado. Com o domínio pleno do Congresso, Trump e o Partido Republicano podem enfim acabar com o Obama Care, a lei do sistema de saúde subsidiado que foi a bandeira do (ainda) presidente e é um dos projetos mais odiado entre os seus rivais.
Some-se a estes pontos a nomeação de um juiz conservador para a vaga que há no Supremo Tribunal norte-americano, e começam a desenhar-se os primeiros dias de uma administração Trump. Para além disso, existe muita incerteza, sobretudo no campo da política externa e no que o presidente-eleito fará para corrigir o que ele diz ser uma guerra demasiado branda contra o Estado Islâmico e uma política desacertada para a NATO, Médio Oriente e Ásia.