Villas-Boas: no Xangai Clube do Porto com águias vermelhas…

O clube chinês de André Villas-Boas nunca foi além de um segundo lugar no campeonato. Agora prepara-se para combater a hegemonia do Ghuangzhou Evergrande, que acaba de se sagrar campeão pela sexta vez consecutiva 

Não se diz que não a 12 milhões de euros por ano. E André Villas-Boas, antigo treinador do FC Porto, Tottenham e Zenit de Sampetersburgo não o fez. Ei-lo agora numa nova etapa da sua vida. Longínqua etapa: Shanghai – à portuguesa Xangai. Cidade da costa da China oriental, nas margens do Yang-Tsé-Kiang, o Rio Azul, também grafado lusitanamente de Iãosequião, maior urbe do país com mais de 20 milhões de habitantes. Começou por ser uma simples vila de pescadores até ganhar, em 1842, foro de cidade aberta ao exterior numa China ainda medieval que se escondia do Ocidente com medo que hábitos novos quebrassem de vez as velhas tradições milenares. Hoje em dia, Xangai é o maior porto de cargas do mundo, cosmopolita emblema da pujante economia chinesa. 

Shanghai Shanggáng, é este o nome do clube que contratou o técnico português que toma o lugar que foi do nosso bem conhecido Sven-Göran Eriksson. Por extenso, Shanghai International Port Group Football Club. Se quiserem, algo como Xangai Porto FC. Nome que deve soar como sinos de uma igreja campestre e bucólica aos ouvidos de André Villas-Boas. Se o FC Porto foi a sua cadeira de sonho, esta será a sua cadeira do tesouro…

Águias vermelhas Pois é! O emblema do Shanghai SIPG tem uma cabeça de águia estilizada em fundo vermelho, o que faz lembrar certas rivalidades cá do burgo. Fundado no dia 25 de Dezembro de 2005, o clube das “águias vermelhas”, como é conhecido, começou por chamar-se Shanghai Dongya, ou seja, Xangai da Ásia Oriental, bem menos prosaico do que a atual denominação. Na sua génese esteve uma das grandes figuras do futebol chinês de todos os tempos: Xu Genbao, que jogou entre 1961 e 1975 nas equipas do Najing Army FC e do Bayi antes de se dedicar a uma carreira de técnico bem sucedida e com títulos nacionais conquistados ao serviço do Shanghai Dongya – que vivia da produção da academia Genbao – e do Shanghai Shenhua, “A Flor de Xangai” em tradução literal, velho rival do Beijing Guoan com o qual disputava o renhido “derby do” Império do Meio.

Voltemos às águias. Ou ao “Manchester United da China, como também lhe chamam. Apesar de ter terminado a Liga Chinesa em segundo na época passada, o Shanghai SIPG nunca foi campeão e aposta tudo na ânsia de tirar a hegemonia ao Ghuanghzou Evergrande, de Luiz Felipe Scolari, que se tornou ainda há duas semanas detentor do título pela sexta vez consecutiva. Para tal conta com muitos milhões de dólares e André Villas–Boas irá certamente ter a possibilidade de ir ao mercado de bolsos cheios.

Reencontro Para já, o treinador português reencontra Hulk com quem trabalhou no FC Porto com o sucesso que se conhece. Esta época, os estrangeiros do Shanghai SIPG foram o brasileiro Elkeson, vindo no início do campeonato do Evergrande, o argentino Dario Conca – também passou pelo Evergrande – , o costa-marfinense Kouassi e o sul-coreano Kim Ju-young (recorde-se que na Liga Chinesa só são permitidos cinco estrangeiros, sendo um obrigatoriamente de um país da Confederação Asiática). Veremos quem virá de novo, sabendo-se como se sabe que a Liga Chinesa precisa de figuras sonantes para continuar a parecer interessante no Ocidente.

O Shanghai SIPG pertence ao distrito de Xihui, uma zona da cidade que pertenceu, historicamente, à dinastia Ming, que governou a China entre 1368 e 1644.  Com o tempo tornou-se o polo católico de Xangai, com forte influência francesa devido a vizinhança com o distrito de Luwan, antiga concessão gaulesa no território. Hoje é um enorme centro comercial, prolixo em arranha–céus e sedes de empresas. 

Cabe agora a Villas-Boas entusiasmar os adeptos. E, acreditem, não é difícil. Os chineses têm acorrido em massa aos estádios desde que a Liga se profissionalizou por completo e começou a atrair grandes nomes do futebol, ainda que alguns em final de carreira. O fenómeno deu-se em 2004, ainda o Shanghai Dongya não existia sequer. Chamaram-lhe Ping An Chinese Football Association Super League, à inglesa para se tornar mais comercial. Neste momento, está a duas jornadas do fim, com o Evergrande já sagrado campeão. Com um estádio capaz de albergar cerca de 57 mil espetadores, cabe também ao português aumentar a média de assistência que ronda os 28 mil/jogo. E lutar pelo título como está prometido.