Foi um país dividido que se dirigiu às urnas para decidir o próximo presidente dos EUA, na terça-feira, e continua a ser um país dividido, aquele que acordou no dia seguinte, depois de ver Donald Trump ser protagonista de uma vitória assombrosa rumo à Casa Branca. Até aqui, nada de novo.
Mas às tradicionais imagens que nos chegaram, na noite das eleições, de apoiantes de Hillary Clinton, chorosos, transtornados e abalados, somaram-se, durante a noite de quarta-feira (madrugada de quinta em Portugal), os menos tradicionais protestos, por parte de uma fação de norte-americanos que se recusa a aceitar ser representada pelo novo presidente, democraticamente eleito.
Se antes da eleição se receavam eventuais reações negativas por parte dos apoiantes de Trump, em caso de derrota para os democratas, com a vitória do primeiro confirmaram-se os desacatos, mas com diferentes protagonistas. Milhares de manifestantes saíram à rua, em pelo menos 25 cidades dos EUA, com uma mensagem clara sobre o novo chefe de Estado: “Not my president” (“Não é o meu presidente”)!
Na noite de ontem, cerca de 5 mil pessoas juntaram-se em frente à Trump Tower, em Manhattan, em protesto contra a eleição do seu proprietário. “A América não votou nas políticas de Donald Trump, porque elas não existem. Votou pelo sexismo, racismo, xenofobia e antissemitismo”, lamentou um manifestante, aos microfones da Fox News. Os ânimos exaltaram-se de tal forma naquela zona de em Nova Iorque, que a polícia foi obrigada a intervir, tendo acabado por deter 15 manifestantes, por “conduta desordeira”.
Discursos e comportamentos semelhantes registaram-se também em Los Angeles. Milhares de pessoas – perto de 7 mil, segundo as televisões norte-americanas – bloquearam uma das principais autoestradas que dão acesso àquela cidade da Califórnia, provocaram incêndios em diferentes pontos da via e um grupo de manifestantes pegou fogo a uma cabeça gigante de Trump, feita de papel. De acordo com a CBS, 13 pessoas foram detidas pela polícia.
Em Boston, Washington, São Francisco ou Chicago, ouviram-se cânticos vários contra o novo presidente, como “Trump é racista”; “Não queremos Trump, não queremos o Klu Klux Klan, não queremos um país fascista”; ou “Vamos abolir o Colégio Eleitoral” – este último em jeito de clamor, contra o modelo eleitoral que vigora no país e que, como de resto se verificou, não premeia, necessariamente, quem consegue mais votos, mas quem garante o maior número de “Grandes Eleitores”, numa lógica de distribuição populacional por estado.
Uma das principais mensagens partilhadas pelos dois grandes derrotados da noite eleitoral –Barack Obama e Hillary Clinton – foi a da necessidade de todos os norte-americanos aceitarem o resultado das eleições e darem a Donald Trump o benefício da dúvida. Os próximos dias tratarão de mostrar se estes manifestantes pensam o mesmo.