Colômbia. Governo e FARC alcançam novo acordo de paz

Chumbo do primeiro compromisso em referendo levou as partes a adotarem proposta dos que votaram “não”

Os representantes do governo colombiano e das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) chegaram a um novo compromisso de paz, um mês e meio depois de terem visto a população rejeitar o primeiro acordo em referendo. O presidente Juan Manuel do Santos revelou que foram recebidas e tidas em conta mais de 500 propostas de defensores do não ao primeiro pacto e que o novo texto incorpora alterações em 56 dos 57 temas presentes no mesmo. 

O primeiro compromisso foi alcançado no final de setembro e ratificado, numa pomposa cerimónia, em Cartagena das Índias, dias depois, pelo presidente Santos e pelo líder das FARC, Rodrigo “Timoshenko” Londoño. Tudo apontava para que os colombianos fossem aceitar o acordo de paz – para se oficializar o final de uma guerra com 52 anos que fez mais de 260 mil mortos e perto de 6 milhões de deslocados -, mas ele foi rejeitado por 50,2% dos participantes no referendo.

O resultado prometia deixar o processo bloqueado, mas a distinção de Juan Manuel Santos, no início de outubro, com o Prémio Nobel da Paz deu um novo alento às partes para voltarem a pegar no texto. As negociações recomeçaram na capital de Cuba e o novo compromisso foi anunciado no sábado. “Disse que o acordo do dia 26 de setembro era o melhor acordo possível. Mas hoje, com humildade, reconheço que este é melhor porque resolve muitas críticas”, admitiu o máximo representante do executivo nas negociações, Humberto de la Calle, citado pelo “El País”, em Havana, durante o anúncio do novo compromisso. 

Horas depois deste anúncio, o chefe de Estado fez questão de explicar algumas particularidades sobre o novo documento, que ainda não foi tornado público. Segundo Santos, foram feitas modificações em todas as temáticas, exceto na que se relaciona com a transformação do grupo de guerrilha num partido político com assento parlamentar.

“Um ponto que reivindicavam muitos do que votaram ‘não’ era a impossibilidade de eleição dos chefes guerrilheiros. Eu percebo que este seja o sentimento de muitos cidadãos. [Mas] tenho de dizê-lo com franqueza: neste ponto, não se conseguiu negociar”, confessou o presidente, citado pelo jornal local “El Espectador”, garantindo que não se trata de um tratamento de favorecimento, mas de um passo necessário para que as FARC possam “fazer política sem armas”, regressando às suas “origens” enquanto movimento.

A aprovação do texto dificilmente passará por um novo referendo, pelo que a hipótese mais credível será ir ao Congresso, para ser aprovado pelos deputados.