Inicialmente, era um protesto de imigrantes a pedir uma maior facilidade na legalização em Portugal. Mas de uma manifestação unilateral rapidamente se passou para um protesto com duas frentes: de um lado, centenas de imigrantes concentrados na Mouraria, em Lisboa e, do outro, elementos do Partido Nacional Renovador que marchavam tendo como lema a luta contra a “invasão de imigrantes”. A PSP foi obrigada a criar um cordão policial a separar as duas fações – que ao todo terão juntado, segundo as autoridades, cerca de 3 mil pessoas –, o que não impediu alguns episódios de maior violência.
Dois espanhóis foram agredidos por um grupo de cinco cabeças-rapadas. Um dos dois cidadãos espanhóis a trabalhar em Portugal há três meses trazia uma t-shirt com o logótipo dos Black Panthers – partido ligado ao nacionalismo negro – e terá sido depois de verem esse símbolo que o grupo de cinco skinheads começou a agressão. Um dos espanhóis foi atirado ao chão, enquanto outro foi esmurrado, ficando com o lábio aberto e várias escoriações na face. Os agressores acabaram por fugir antes de a polícia ser alertada para o incidente.
A agressão foi reportada ao SOS Racismo – uma das várias associações que organizaram o protesto –, que vai transmitir o ocorrido às autoridades.
Manif contra manif Os imigrantes que se concentraram ontem em protesto exigem uma alteração da Lei de Imigração para resolver o problema de cerca de 30 mil estrangeiros que vivem em Portugal mas sem autorização de residência, apesar de trabalharem no país, fazerem descontos para a Segurança Social e pagarem impostos.
Numa espécie de contraprotesto, o PNR marcou uma concentração para o mesmo local. Esta manifestação resultou na detenção do vice-presidente do partido, João Pais do Amaral, por ter tentado furar o cordão policial depois de a PSP ter dado, por várias vezes, ordem para não o fazer. Em declarações ao i assim que saiu do posto da PSP na Almirante Reis, João Pais do Amaral diz que somente foi identificado e não será presente a nenhum juiz.
O líder do PNR fez questão de realçar, em declarações ao i, a sua posição contra uma “imigração de mão estendida e feita de subsidiodependentes”.
Tentaram invadir sede do Livre Horas depois, cerca de 20 apoiantes do PNR tentaram entrar na sede do partido Livre, em Lisboa, onde várias pessoas estavam reunidas a assistir a uma conferência sobre a eleição de Donald Trump. Os presentes conseguiram barrar a entrada do grupo, que acabou por dispersar após a intervenção da PSP.
Rui Tavares, fundador do Livre, disse ao i que, no momento em que ocorreram os desacatos, estava a ser discutida as ligações entre Trump e o fascismo. “Mais do que uma interrupção, foram uma ilustração”, afirma.
“A eleição do Trump está a fazer com que a extrema-direita queira ser mais do que aquilo que realmente é. Não nos deixamos intimidar e continuamos a seguir uma linha democrática, defendendo a liberdade, a tolerância e o cosmopolitismo”, reforça o fundador do partido.
*com Margarida Davim, Joana Marques Alves, Sebastião Bugalho e João Porfírio