Quando olhamos para a emergência dos populismos e a multiplicações das guerras pelo planeta verifica-se que há semelhanças gritantes com os anos 30: o crescimento brutal das desigualdades, um cheiro de podridão corrupta de fim de época e o aparecimento de forças extremistas de direita com um discurso simplista em que o racismo contra o outro, seja ele mexicano ou muçulmano, impera. As votações na Europa e nos Estados Unidos mostram uma espécie de esgotamento do modelo democrático em tempos de globalização, como escrevia o editor do Financial Times Wolfgang Münchau, «Aconteça o que acontecer na terça-feira, as instituições políticas nas economias ocidentais precisam de responder de uma forma mais eficiente à política de insurreição». Münchau concluía que a única forma de impedir a insurreição populista era conseguir uma resposta que expressasse de outra forma o descontentamento imparável.
E é essa a grande diferença em relação aos anos 30, não existe no terreno da disputa popular uma força que seja antissistema a sério, que em vez de escolher como alvo os imigrantes e os mais pobres da nossa sociedade, escolha como inimigo o 1% da população do planeta que tem 99% da riqueza. Tal como com o fascismo, os populismos de extrema-direita são a última linha de defesa de um sistema injusto. A bolsa dos Estados Unidos sabe bem isso e dispararam para cima de uma forma nunca vista. O descontentamento está aí é apenas preciso um discurso com sentido.