Daniel Silva, Filipe Lima e Ricardo Santos foram os portugueses que estiveram na perseguição deste objetivo de terminar uma época no top-60 da ordem de mérito europeia para poderem participar no torneio que encerra o calendário do circuito europeu, que durante anos tinha o nome de Volvo Masters e jogava-se em Valderrama e que desde 2009 decorre no Dubai.
É exatamente por isso, por ser uma meta que há muito, desde a década de 90 do século XX, o golfe nacional perseguia, que o feito é ainda mais saboroso e importante, e logo num ano de 2016 em que o mesmo Ricardo Melo Gouveia e Filipe Lima se tornaram nos primeiros portugueses a competir num torneio de golfe olímpico.
«É enorme para mim ir ao Dubai», disse Ricardo Melo Gouveia, em inglês à European Tour Radio. Um acordo entre esta rádio e o Gabinete de Imprensa da FPG permite que o nº1 português responda também a algumas perguntas em português e foi já no idioma de Camões que acrescentou: «Estou muito feliz. Foi uma semana stressante. Sabia que tinha de jogar bem e que teria, provavelmente, de fazer um top-5 para conseguir entrar no Dubai».
O português residente em Londres fez melhor do que um top-5 e terminou no top-3 do Nedbank Golf Challenge hosted by Gary Player, com 281 pancadas, 7 abaixo do Par. Empatou em 3º com craques como o espanhol Alejandro Cañizares (2 títulos no European Tour e ex-membro do PGA Tour), o francês Victor Dubuisson (que já jogou a Ryder Cup), o sul-africano Branden Grace (7 títulos no European Tour e 1 no PGA Tour) e o britânico Andy Sullivan (jogou a Ryder Cup este ano e venceu 3 títulos no European Tour, incluindo o Portugal Masters em 2015).
Atrás de si ficaram, por exemplo, os dois vencedores de torneios do Grand Slam de 2016 que estavam na África do Sul a lutar pelo posto de nº1 na Corrida para o Dubai: o nº1 Henrik Stenson (Suécia), que terminou em 8º (-6) e o nº2 Danny Willett (Inglaterra) que fechou em 11º (-3).
Foi o seu terceiro top-10 da temporada, depois de ter sido 7º classificado (-8) no Commercial Bank Qatar Masters, em janeiro, e 8º (-10) no Made in Denmark em agosto. Este 3º lugar passa a ser a sua melhor classificação de sempre no European Tour.
Poucos acreditariam que, diante da elite do golfe europeu e sul-africano, naquele que é considerado o Major de África, o representante do Team Portugal alcançasse o tal top-5 e, na verdade, mesmo jogando bem, nos três primeiros dias de prova, era 32º aos 18 buracos (74, +2), 13º aos 36 (68, -4) e 12º aos 54 (72, Par).
Mas Ricardo Melo Gouveia acredita sempre que tem hipóteses. Foi com essa ambição que doze meses antes fez história para o golfe nacional ao vencer, ao mesmo tempo, o NBO Golf Classic Grand Final em Omã e o Ranking do Challenge Tour.
Hoje colocava-se a questão se iria atacar o tal top-5, arriscando-se a cometer erros irrecuperáveis, ou se iria jogar mais conservador para garantir um elevado prémio monetário. A resposta veio rápida e perentória, mostrando que regressou ao Gary Player Country Club, em Sun City, para arrasar. Queria mesmo ir ao Dubai.
Começou com Par no buraco 1 e vieram logo birdies no 2 e no 3, com destaque para um fantástico chip-in no 3 que foi considerado pelo European Tour como a segunda melhor pancada do dia! O bogey no 5 não o esmoreceu e mais birdies vieram no 9, 10 e 11. Sofreu um 2º bogey no 13, mas logo recuperou com birdies no 15 e no 17, tendo ainda a enorme satisfação de fechar com Par no 18, onde tinha perdido 2 pancadas nos dois dias anteriores.
«Não foi o dia em que bati melhor na bola, mas o jogo curto esteve muito bom. Fiz 2 chip-in e sempre que falhei o green fiz shot e putt à exceção de um buraco», explicou o jogador de 25 anos, que subiu do 83º lugar que ocupava na Corrida para o Dubai antes do torneio de Sun City começar, para o 53º posto.
É já um recorde nacional, pois nunca nenhum português encerrou uma época no top-60 na Corrida para o Dubai ou na antiga Ordem de Mérito Europeia. E poderá melhorar essa classificação para a semana nos Emirados Árabes Unidos.
É incrível como Ricardo melo Gouveia parece abraçar os desafios sem sentir demasiado a importância do momento. Em conversa no Facebook com o seu agente, Rory Flanagan, da Hambric Sports, referia-lhe isso mesmo. «Foram duas semanas incríveis para ele», referiu Flanagan, que teve um fim de semana em grande, já que outro dos seus jogadores, Pedro Figueiredo, regressou às vitórias em Amarante.
Entretanto, o caddie do jogador português, Nick Mumford, que tem estado com ele nesta Final Series, juntou-se à conversa e acrescentou: «Ele não sabe o que é a pressão. Foram duas grandes semanas».
Duas grandes semanas não, na realidade foram três, sempre sob a pressão do resultado, como Ricardo Melo Gouveia recordou: «Quando fui para o último torneio do calendário regular do European Tour, o Portugal Masters, tive de jogar bem para entrar na Turquia. Depois, tive de jogar de novo bem para entrar neste torneio. E uma vez mais, foi preciso jogar bem esta semana para ir ao Dubai».
Com efeito, o seu percurso tem sido sensacional: 22º (-15) no Portugal Masters que lhe rendeu 20.800 euros de prémio monetários; 13º (-9) no Turkish Airlines Open, arrecadando 95.593 euros, o prémio mais elevado da sua carreira; e agora 3º (-7) no Nedbank Golf Challenge.
E atenção que os 276.811 euros que hoje embolsou são o seu melhor prémio de sempre, mas também um recorde nacional, passando a ser o cheque mais elevado de todos os tempos de um golfista português num único torneio. O algarvio superou os 173.710 euros de Filipe Lima quando foi 2º (-11) no BMW International Open de 2007 e os 112.500 euros de Ricardo Santos quando venceu (-22) o Madeira Islands Open BPI de 2012.
36º Nedbank Golf Challenge hosted by Gary Player, o segundo e penúltimo torneio da Final Series do European Tour, considerado o Major de África, distribuiu 6,4 milhões de euros em prémios monetários e foi ganho pelo sueco Alex Noren que cometeu a proeza de conquistar o seu 4º título da temporada na primeira divisão europeia.
Noren foi o único dos 72 participantes a fazer melhor do que as 67 pancadas de Ricardo Melo Gouveia na última volta, com um estrondoso cartão de 63 (-9), para um agregado de 274, apresentando registos de 69, 67, 75 e 63.
O jogador de 34 anos bateu por 6 pancadas o coreano Jeunghun Wang, de apenas 21, e subiu ao 3º lugar da Corrida para o Dubai, atirando Rory McIlroy para a 4ª posição.
A luta pelo estatuto de nº1 do European Tour só irá terminar no Dubai com quatro grandes candidatos: Henrik Stenson, Danny Willett, Alex Noren e Rory McIlroy.
É diante de mega estrelas do golfe que Ricardo Melo Gouveia agora atua, desafia e muitas vezes bate. Simplesmente notável para um rookie, para um jogador que só há um ano subiu ao European Tour.
«Tem sido espetacular poder jogar com jogadores de topo, a nível europeu e mundial. É um sonho tornado realidade», referiu o profissional do ACP Golfe. O sonho continua e prossegue já na próxima quinta-feira no Dubai.