Trump. Tempestade nos mercados com bancos a ganhar muito dinheiro

Juros aumentam e investidores mudam das obrigações para as ações. Expetativa sobre crescimento dos EUA é elevada, mas há vários alertas.

O mercado da dívida soberana tem sido assolado por fortes movimentações depois da eleição de Donald Trump como próximo presidente dos EUA.

Ontem, o dia começou com a taxa de juro implícita na dívida portuguesa a dez anos a subir para os 3,653%, o valor mais alto desde a vitória do “sim” à saída do Reino Unido da União Europeia. 

Este foi um comportamento transversal aos países da Zona Euro e também aos EUA. A tendência atingiu tanto as economias periféricas da Zona Euro – Itália e Espanha – como as chamadas obrigações de reserva, como as alemãs. 

Mil milhões A explicação é o receio dos investidores de uma política mais protecionista por parte dos EUA – que Trump tem vincado querer implementar – que traga riscos acrescidos à economia mundial.

Os detentores de obrigações já perderam mais de mil milhões de dólares (perto de 929 mil milhões de euros) e a Reuters aponta mesmo para o fim do “bull market” – um conjunto de itens negociáveis cujos preços estão a aumentar ou se esperem que aumentem – do mercado de obrigações, que dura há quase 30 anos.

A agência de notícias revela que o dinheiro que está a sair do mercado de obrigações está a ser colocado nas ações, nomeadamente da banca, no dólar e em algumas matérias-primas.

Expansão A equipa do presidente eleito anunciou que a administração Trump vai mesmo avançar com os estímulos orçamentais em larga escala para um programa económico assente num aumento do investimento público. Os analistas e investidores anteveem que a maior economia do mundo vai acelerar e apostam nas ações como fonte de rendimento.

Ontem, as bolsas mundiais estiveram em alta, com destaque para os títulos da banca, que valorizaram 2%, também impulsionados pela expetativa de que a nova administração seja menos exigente na regulação do setor. 

BCE O rumo da economia mundial depois da eleição de Trump foi ontem motivo de reflexão no Banco Central Europeu (BCE). O seu vice-presidente considerou que a economia mundial enfrenta “um grau anormal de incerteza”, alertando para que o aumento do protecionismo pode comprometer o crescimento.

Embora os investidores tenham até agora reagido de forma positiva à vitória de Trump, é preciso “cuidado para não se tirar conclusões positivas precipitadas”, disse Vítor Constâncio em conferência. “Até ao momento, os movimentos (do mercado) indicam crescimento económico mais forte nos EUA, mas no contexto de uma política que privilegia a América”, disse.

O responsável também alertou para que as economias da Europa – dependentes de exportações – poderão ser prejudicadas caso Trump mantenha as políticas prometidas em campanha eleitoral. O BCE vai reavaliar a situação em dezembro.