Este muro, na Graça, onde foi pintado o poema «Ser poeta» de Florbela Espanca, é, na minha opinião, uma bela utilização de um muro branco num local onde passam muitas pessoas. Espalhar a poesia pela cidade é levá-la a todos, é partilhar, com todos, as palavras, belas, que ajudam a ver e a interpretar o mundo de forma mais bonita, a encarar o real com o tal «astro que flameja» e a levar os sentimentos ao limite.
Pintar este poema de Florbela Espanca – muito conhecido na versão musical de Luís Represas e João Gil –, como pintar versos de Fernando Pessoa ou Almada Negreiros, é partilhar palavras bonitas, quando a maior parte das palavras são feias, são de protesto, de interpelação; são palavras negativas, cuja função é a de alertar para algo que está errado ou deveria ser diferente.
Também estes versos têm uma função e interpelam os transeuntes, levando-os a refletir ou, pelo menos, levando-nos a olhar e a ler o que está escrito; levando-nos a partir de uma outra perspetiva na análise da vida e do mundo, porque, como diz Carlos Drummond de Andrade, realmente, «O mundo é grande», muito grande.
Todas as palavras, como «chaves» que são, ajudam-nos a descodificar o mundo, a olhá-lo pelos olhos de quem as escreveu, como se de uma lente se tratasse (frequentemente de aumentar, mas, por vezes também, de diminuir).
E são estas palavras, tal como os gestos de carinho, de compaixão, de compreensão ou de afeto, que nos ajudam a sentir melhor. Obrigada, pois, por estas palavras que em todas as ruas encontro.
Maria Eugénia Leitão
Escrito em parceria com o blogue da Letrário, Translation Services