Ricardo Melo Gouveia foi 46º no Dubai e 54º no ranking europeu

Ricardo Melo Gouveia terminou este domingo o DP World Tour Championship no 46º lugar empatado, entre 60 participantes, naquela que foi a estreia de um golfista nacional no torneio de encerramento de uma temporada do European Tour.

O português de 25 anos totalizou 285 pancadas, 3 abaixo do Par do Earth Course do Jumeirah Golf Estates, no Dubai, entregando cartões de 72, 69, 71 e 73, que lhe valeram um prémio monetário de 39.071 euros.

O nº1 português, que durante o torneio chegou a andar no top-20 e por instantes viu-se mesmo no top-15, perdeu 18 posições na última jornada e terminou fora do top-40, uma classificação seguramente longe do que sonhava, mas nem por isso deixou de conseguir carimbar alguns recordes nacionais.

Para além de ter sido a primeira vez que um português jogou torneios da Final Series e se apurou para este milionário evento de 7,5 milhões de euros em prémios monetários, também conseguiu o melhor posicionamento de sempre de um profissional luso no último ranking da época na primeira divisão europeia e tornou-se naquele que mais elevados prémios monetários auferiu ao longo de uma temporada… e logo no seu ano de estreia, de “rookie”.

Na Corrida para o Dubai (o nome da ordem de mérito europeia desde 2009), o representante do Team Portugal iniciou a semana como 53º classificado, chegou a entrar no top-50 durante o torneio, mas concluiu a temporada em 54º, com 709.976 euros embolsados em 2016, só em torneios do European Tour.

Na história do golfe português, só quatro jogadores lograram o estatuto de membros do European Tour e o pioneiro foi Daniel Silva, no início da década de 90 do século XX. Daniel Silva foi 69º da ordem de mérito europeia em 1992 (€101.459) e 75º em 1991 (€72.519), números impressionantes para a época.

No entanto, foi mais recentemente que Filipe Lima e Ricardo Santos estabeleceram recordes nacionais. Lima foi 63º em 2006 (€381.222) e Santos arrecadou 499.756 euros em 2013 (ano em que foi o 65º europeu).

Estes dois recordes foram agora batidos por Melo Gouveia.

Outras épocas notáveis para o golfe luso aconteceram em 2005, na qual Lima foi 73º (€310,464); em 2007 com Lima em 85º (€314,186) e em 2012 com Santos em 90º (€264,174).

Um recorde que Ricardo Melo Gouveia não conseguiu bater mas ficou perto foi o de média de pancadas por volta.

O atual nº1 português fechou o ano com 71,46 e o melhor registo ainda é o índice de 71,26 de Santos em 2013. Superada foi a média de 71,60 de Lima em 2005. E é espantoso como Daniel Silva logrou 72,88 em 1991, uma boa média para aqueles tempos! Só estamos a contabilizar este registo estatístico em anos em que os jogadores foram membros do European Tour, disputando o mínimo de torneios exigidos para tal.

Outro feito que Ricardo Melo Gouveia não conseguiu igualar foi a vitória de Ricardo Santos em 2012 no Sir Henry Cotton Rookie of the Year Award.

Porém, num ano em que tantos e bons estreantes apareceram, foi admirável que o algarvio residente em Londres tenha estado na luta por esse galardão até ao penúltimo dia da época no European Tour.

O prémio acabou por ir parar ao sul-coreano Jeunghun Wang, ao fechar o European Tour de 2016 no 16º lugar da Corrida para o Dubai.

Como ao longo desta semana fomos acompanhando a par e passo as subidas e descidas dos cinco candidatos ao prémio, aqui fica o relatório final depois da quarta volta do DP World Tour Championship:

16º ↓ -1 WANG Jeunghun (Coreia do Sul), hoje 66 (-6), foi 17º (-10)

23º ↓ -4 LI Haotong (China), hoje 69 (-3), foi 30º (-6)

43º ↓ -3 LEE Soomin (Coreia do Sul), hoje 70 (-2), foi 56º (+2)

50º ↓ -2 STONE Brandon (África do Sul), hoje 72 (Par), foi 59º (+5)

54º ↓ -1 GOUVEIA Ricardo (Portugal), hoje 73 (+1), foi 46º (-3)

Veja-se como, naturalmente, diante da elite do top-60 do European Tour, todos os cinco rookies pioraram a classificação na Corrida para o Dubai em relação à cotação que tinham antes do torneio começar, mas Wang mereceu totalmente a distinção e terminou ao mais alto nível, com voltas de 65 ontem e de 66 hoje, garantindo um top-20 no DP World Tour Championship.

Quanto a Ricardo Melo Gouveia, como já foi referido, empatou em 46º com campeões de Majors como o irlandês Padraig Harrington e o sul-africano Louis Oosthuizen, e ainda com o francês Raphael Jacquelin.

«Não foi a minha melhor semana, mas foi um prazer ter jogado com o nº1 europeu e campeão do The Open», escreveu na sua conta @Melinhogolf no Twitter.

A experiência de ter jogado duas voltas com Harrington e uma com Stenson só pode ser preciosa para o seu futuro, tal como a boa imagem que deixou no Dubai, à semelhança do que tinha acontecido no ano passado em Omã, quando se sagrou nº1 do Challenge Tour.

António Varela, sócio do Jumeirah Golf Estates, desempenhou funções de scorer no torneio e colaborou com o Gabinete de Imprensa da FPG. O relato que nos faz do comportamento do atleta olímpico português é sintomático:

«A prestação do Ricardo Melo Gouveia foi muito positiva apesar de um último dia onde o cansaço acumulado destas últimas semanas se fez sentir.

«A forma como bateu na bola e, sobretudo, a sua atitude em campo mereceram vários elogios, quer do público quer dos meus colegas scorers e marshalls que o acompanharam nestes quatro dias.

 

«Mostra uma maturidade e uma postura que são de louvar, bem como uma estrutura mental muito forte, capaz de gerir as suas dificuldades sem ter necessidade de partir um taco, como fez o Haotong Li, ontem, no buraco 14, mesmo em frente a um árbitro (e eu era o scorer). O árbitro desculpou-o mas advertiu-o… ou ainda como o Stenson que, anteontem, a jogar ao lado do Ricardo, também no buraco 14, atirou um taco pelo ar, por ter deixado um chip curto!

«Foram muitos os comentários elogiosos que ouvi de espectadores que nem sabiam bem o seu nome e referiam o rookie que tinha ganho a Corrida para Omã no ano passado.

«O Ricardo Melo Gouveia começa a criar um nome por mérito próprio no circuito mais alto da Europa».

Que o diga Henrik Stenson, que passou a saber quem é o nº1 português. “Iceman” conquistou pela segunda vez na sua carreira o Harry Vardon Trophy, ou seja, terminou o European Tour de 2016 como o nº1 da Corrida para o Dubai, repetindo o que alcançara pela primeira vez em 2013.

Mas se nesse ano precisou de vencer o DP World Tour Championship para consegui-lo, desta vez bastou-lhe um 9º lugar no Dubai, com 276 (72+69+70+65), -12, empatado com o norte-irlandês Rory McIlroy, o espanhol Jorge Campillo e o inglês Tommy Fleetwood.

E para além dos 147.839 euros que recebeu pelo 9º lugar, mereceu mais 1,1 milhões de euros de bónus por ser o nº1 europeu.

«Foi o melhor ano da minha carreira. Sempre pensei que seria difícil superar o que fiz em 2013, mas acho que consegui-o este ano, talvez pelos pontos altos que foram a vitória no The Open, os Jogos Olímpicos (medalha de prata) e ganhar de novo a Corrida para o Dubai», disse o primeiro sueco a vencer um Major (em Royal Troon, na Escócia), tendo somado ainda outro título no BMW International Open, na Alemanha.

Stenson tem 40 anos e prova que é possível atingir-se os níveis mais elevados numa fase adiantada da carreira, mas no golfe o mesmo pode suceder em idades extremamente jovens.

Veja-se como o novo campeão do DP World Tour Championship é o inglês Matthew Fitzpatrick, o mais jovem de sempre a ganhar o torneio, aos 22 anos (e 80 dias), batendo os 23 anos (e 205 dias) de Rory McIlroy em 2012.

Com 271 pancadas, 17 abaixo do Par, Matthew Fitzpatrick agregou voltas de 69, 69, 66 e 67, superiorizando-se por 1 única pancada a outro inglês, Tyrrel Hatton (71+66+67+68), graças a 1 birdie no último buraco.

Foi o seu terceiro título no European Tour (depois do British Masters em 2015 e do Nordea Masters em 2016) e rendeu-lhe um prémio de 1.217.174 euros, ao qual deve ser acrescido o bónus de 319.509 euros por encerrar a época no 6º lugar da Corrida para o Dubai.

«Esta vitória significa tudo para mim. Vencer um destes eventos da Final Series é de facto especial e este ainda mais por ser o último da temporada. É indescritível e vou levar tempo a assimilar tudo. Foi um ano especial e encerrá-lo assim é espantoso», disse o inglês que se estreou também em 2016 na seleção europeia da Ryder Cup e que se tornou no britânico mais jovem de sempre a somar três troféus no European Tour, superando por 220 dias Sir Nick Faldo, um recorde que datava de 1980!

Mas se o European Tour de 2016 chegou agora ao fim, há muitos jogadores que ainda têm mais competições pela frente até ao final do ano.

Ricardo Melo Gouveia é um deles e daqui a quatro dias já estará em Melbourne, na Austrália, a representar Portugal na Taça do Mundo de profissionais, ao lado de Filipe Lima.

Veja-se a sua última mensagem no Facebook: «Quero agradecer a todas as pessoas que me apoiaram durante toda a semana, têm sido incansáveis. Quero também agradecer aos meus pais, à minha futura mulher (Carolina), Rogério Machado, David Llewellyn, Hugh Marr e Rory Flanagan por terem-me dado todo o apoio possível durante toda esta semana. Estou neste momento no aeroporto de Doha, de viagem para o Campeonato do Mundo, o meu último torneio de 2016».